PORTAS  DE  MAIO


"Maio, você está vendo, já vai indo... indo... logo virá a florada dos ipês (gosto das amareluras dos ipês), as chuvas de setembro já estão sendo gestadas, estão logo ali, além da montanha escura do inverno. Mas estão em estoque... você sabe! Ninguém perde senão o tempo que tem, e o tempo que se tem é o agora, o quando..."


            Portas de maio que se fecham
            sobre tudo que não floresceu
            o verso engasgado ferindo a garganta
            a frase incompleta reticente          
            a mão que se retraiu 
            a voz que calou suas flores
            o riso encobrindo o medo
            
            Portas de maio quem as fechou?
            Fui eu foste tu, foi desencanto
            foi o vento que sem querer
            varreu  os dias e os fez
            cair celeremente qual castelos
            de cartas, enquanto eu,
            enquanto tu, éramos tragados
            pela indecisão?

            e este junho já se prenuncia
            em gélidos horizontes
            Será o derradeiro frio 
            matando a chama frágil
            crestando a folhagem
            cortando a passagem
            para uma primavera ainda possível?

            As chuvas de setembro ainda tardam,
            e eu sinto somente o frio da alma
            e temo a primavera que virá
            após este inverno, pois se 
            sou planta a morrer 
            ainda em semente,
            serei na estação florida
            apenas secura e morte
            sob  linda árvore
            de flores amarelas...
           
tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 30/05/2008
Reeditado em 30/05/2008
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