Hoje voltaste
Hoje voltaste
Voltaste de longe a olhar a minha janela,
A procurar o meu olhar envolta em tuas vestes negras,
Coberta no rosto, desfigurado pelas trevas,
E pé, ante pé, chegaste em silêncio,
E ficaste a pairar no meu ar,
Numa afronta desproporcionada,
Que me leva ao refúgio da mente desconcertada,
No branco do meu lençol e na minha almofada.
Nunca te vencerei, e quando te sinto por perto,
Fico nervoso e sinto-me atacado a descoberto,
Sem nada que me defenda,
A vida fica nua e a impotência do meu corpo,
Resigna-se perante a tormenta,
Do traste que me persegue e não tem emenda,
Fico no mágico equilíbrio de uma teia que me segura,
Olho o abismo e não sei ainda, quanto dura!
Nenúfar 26/5/2008