IMENSO DESERTO

Todos os dias ela está lá,

Assustando-me pela manhã.

Não há reza, não há exorcismo,

Que a faça, de minha frente, sumir.

Fantasmagórica, aumenta de tamanho,

Iceberg que rompe o casco da inspiração.

Arrepiá-me e me faz de medo tremer.

Às vezes parece rir do pavor

Que gera a sua brancura.

Busco arma para enfrentá-la.

Quero retalhar o seu corpo

A bico de metálica pena

Para que, de cada sádico talho,

Jorre o precioso sangue azul

Com o qual escreverei versos

Que farão gritar essa assombração

Que é a folha de papel em branco

Que me assombra na escrivaninha

Parecendo um imenso deserto

Que se estende diante de mim,

Apavorada, com a caneta na mão.

07/08/04.