Um Tempo
Chega um tempo em que angústia se esvai.
Só permanece a fina sensação do estilete no peito.
E chegamos a crer que somos felizes.
Chega um tempo em que não dizemos mais : "Te Amo".
Tememos que o mundo nos julgue ridículos.
Ou quem sabe ingênuos demais.
Chega um tempo em que não mais confessamos : "Sou Teu".
Porque nos cremos menores que o precipício do outro.
Ou porque talvez não consigamos mais compartilhar.
Chega um tempo em que nem mais se entende de sutilezas.
De tão brutalizados, esquecemos as coisas da alma.
E toda forma de Arte começa a nos parecer incipiente.
Então deixamos de sorrir quando vemos passarinhos.
Não percebemos a graça de seus movimentos. Eles voam !
Nem ouvimos seus trinados encharcados de poesia.
Não entendemos porque as crianças são tão barulhentas.
Mal lembramos que suas peles têm textura de pêssegos.
Que em seus olhinhos brilha uma luz que nos remete a Deus.
Chega um tempo em que não lembramos do sabor do beijo.
Do abraço mais que preciso. Coração com coração.
Evitamos o efusivo. Somos educados, cordatos. Vazios.
Chega um tempo, afinal, em que o tempo estanca.
E somos lançados - perplexos - à eternidade que criamos.
No que não nos permitimos, nosso inferno pessoal...
Claudia Gadini
18.01.06