Sonho

Lentamente retirou as lentes

E os olhos se afogaram em lágrimas

Era um sorriso agora,

Era tarde e primavera

Tudo na mesma pessoa.

Levemente levou as mãos

Em direção a outras mãos

E pulsou mais rápido no peito

A bomba da vida

O líquido rubro da paixão...

E Djavan falou a fundo

E Caetano versou amor na língua

E os lábios novamente se encontraram

Numa confusão doce de sabores e lembranças

E a saudade não teve espaço...

Eram laços os braços agora

Como elos fortes de um puro aço

Sem corrosão

Sem erosão na vida

Sem desgastes que castiguem as vontades a tanto contidas.

E as palavras escorreram pela boca

Como algo que retorna de dentro da grade corporal

Como baba de criança novinha

Como liquido... Fino e transparente...

Tudo singelo e normal:

“Fica aqui!

Não mas te afastes de mim!

Quero-te!

Não sou mais que mísero barro sem os olhos teus!...”

E os soluços tomaram forma humana.

E os deuses quiseram chorar...

Naquela tarde alguém amou

Alguém sentiu

Alguém partiu

Alguém sofreu...

Lentamente retiraram suas lentes.

Chorava o céu, lagrimas quentes como o magma

Era um olhar triste agora

Era noite e outono

Tudo num mesmo sonho.