Escritos na areia

Nos suores frios que me tomaram: sou água,

Nas incertezas e vagas que naveguei: sou barco,

Nos vôos de gaivota: sou esperança,

Nos silêncios das palavras não ditas: sou rocha,

Nas estrelas que esperei: sou bússola,

Sou água, barco, esperança e rocha: sem bússola.

Sou rocha, esperança, bússola e barco: sem água.

Sou barco, rocha, água e bússola: sem esperança.

Na verdade mesmo, não sou nada!

Campeio a paz de segundos eternos,

Mas não vivo tanto tempo assim.

Procuro o bálsamo das cicatrizes,

A luz brilhante das frestas,

Mas sangram as minhas carnes no escuro,

Tão escuro que eu apenas sinto, não vejo.

Encosta de montanha: encosto,

Intransponível monstro de areia e sal,

Salga-me a pele, esfola-me,

Duna que dança em cada noite;

Muda de lugar, muda de toque,

Muda de temperatura...

Tanto tempo para desperdiçar,

Tanto, que nem dá tempo!

Olho em volta do meu túmulo de alga e conchas,

Estou deitada na areia fria,

Estou morta?

Vivo assim, me olhando, espreitando,

Sobrevivo do naufrágio do meu barco,

Desafogo-me da água dos dias,

E não espero nada, nada mesmo,

Além das rochas,

Das bússolas desmagnetizadas,

Dos mapas comprados em camelôs.

(Pensando bem, isso não tem nenhum sentido. E precisava ter?)

Paula
Enviado por Paula em 24/05/2008
Reeditado em 24/05/2008
Código do texto: T1002823
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