Você do Espelho
Ei, você do espelho
Mas que rosto sujo, profundo!
Que da ausência das rosas,
Fez-se cravo-do-mato
Seco, mas intacto
Ei, você do espelho
Não se viu direito?
Vem cá, olha mais perto
Creio em teus olhos espertos
E que marcas são essas?
Por acaso foste pra guerra?
Te vejo sangrar
Mas não tem sangue
Teu rosto são pegadas pregadas
Na terra molhada
Formando crateras eternas
Vazias
E esse buraco?
Foi catapora?
Foi sim, senhora
Ora, ora...
E essas ondas?
Foram as espinhas?
Foi sim, senhora
E esses olhos?
Que caminho é esse traçado
Que delineia os roxos olhos avermelhados
Doloridos só por piscar
Seria esse o Riacho das Lágrimas?
Aquele lugar de noites mal dormidas,
Cabeça apodrecida, mais uma ferida...
Por onde jorra uma linha cheia e curva
Que de tanto correr
Deixou sua marca estampada na cara de uma menina de olhos tristes.
Mas ei, você do espelho
Você ainda não está se vendo direito
Precisa fechar os olhos e sentir o seu eu verdadeiro
Pois o corpo é tua morada
Não uma fachada a ser admirada, rejeitada...
Trate-se com carinho
Perceba o seu jeitinho
Pois ei, você do espelho,
Você é o que não dá pra enxergar
Quem sabe um dia eu chego lá!