Baile das Lendas
Num fandango certo dia
Vi o boi da cara preta
Não podia fazer nada
Não podia fazer careta
Tinha uma bruxa feia
E tinha um lobo mau
E uma mula sem cabeça
Esperando no quintal
Tinha um negrinho
Junto do boi da cara preta
Eu achei meio estranho
Pois ele era perneta
Tinha um baixinho
Com os dentes esverdeados
Que não podia dançar
Pois tinha os pés trocados
Esse era muito estranho
Eu fiquei apavorado
Os pés virados para trás
E os dentes esverdeados
Tinha um tal de anguera
De bombacha e paletó
Muito alegre e contente
Diz que veio de pirapó
Todos juntos numa festa
Todos rindo com alegria
Não tinha assombração
Como minha avó dizia
E eu entrei nessa festa
Era isso que eu queria
O boi da cara preta
Cantava e tocava violão
E o saci do lado
No Cajon e guitarron
O lobo esperava a mula
Para que ela não se esqueça
Que foi num bochincho
Que ela perdeu a cabeça
A bruxinha bailava
Mexendo o seu vestido
Enquanto o saci olhava
Com sentimento contido
Num valseado dos tropeiros
Brilhou na ocasião
O curupira e o anguera
Na dança do facão
E eu estava lá
Nesse momento encantado
Eu não estava com medo
Eu não estava apavorado
Foi então que eu notei
Que eu tinha sonhado
E agora estou aqui
Sorrindo acordado