Janelas da Alma

Janelas da Alma

Trazem consigo, refletidas nas retinas negras, a vastidão da campanha. Viveram décadas de história e, marejadas de saudade, esbugalhadas pela idade, demonstram sua trajetória.

Refletem o sentimento quando a voz, embargada em um tom de nostalgia, conta histórias de um tempo que hoje virou saudade. Calejada pela idade, às vezes falha a memória.

Viram labutas e sonhos se tornarem realidade. Ainda na mocidade, nunca refugou serviço. Teve consigo compromisso e uma gana incessante que se manteve constante naquilo que fez seu ofício.

O olhar, hoje cansado, debruçado nas olheiras, protegido por mouro abrigo adquirido com o tempo, retrata a experiência e a impiedosa ação da indesejada presença.

Ah, o tempo, irreversível e teimoso. Mesmo rejeitando sua constante companhia, ele lembra, dia após dia, sua incômoda presença, reafirmando a sentença de um inevitável fim.

Estes olhos, que viram rodeios, pealos, lidas e domas, hoje se encontram sem muito o que avistar. Quando se estendem a lo largo, já não avistam mais o verdejar dos campos, nem o voar dos quero-queros, nem a paisagem da terra onde viveu desde piá.

Estes olhos, que andam carborteiros como os tantos que encilhou, ao serem abastecidos pela saudade da lida, fazem perder a doma, encharcam as retinas e, num golpe de saudade, não mais seguram a verdade e transbordam sem perceber.

Viveram, foram felizes, trazem consigo uma herança que poucos irão ter. Cuidou de campo e Querência, honrou sua existência e fez da vida o que amava. E hoje, de alma lavada, essas janelas da alma refletem o coração.