Diário de Campo

Diário de Campo

Rompe o dia em excelência com um luzeiro abençoado,

Quadro campeiro imaculado, encharcado de

Beleza.

Sagrada é a natureza da pampa do meu estado.

Ouvem-se tropéis de cavalos,

Dos mansos, buenas de encilha,

Mesclados ao cantar dos pássaros, sonorizam um novo dia.

Ronca a cuia de chimarrão, a mais sagrada infusão, companheira matutina,

Que antecede a lida, na reunião da peonada, reunida no galpão.

Dali se ouvem histórias, causos e galhardias, puro ritual fronteiro,

De puro conhecimento que enriquece o tempo beirando o fogo de chão.

Homens comuns são de fato, mas carregados de experiência, trazem consigo vivências de um dia a dia sofrido,

Do povo gaúcho e aguerrido que não espera por sorte.

Cavalhada na mangueira; na forma, é feita a escolha, dali até o fim do dia serão centauros de fato. No galpão, se ouve o som dos cascos na pedra bruta retumbando, encilha feita a capricho para mais um dia de luta.

No patuá vai a creolina e uma botella de canha para espantar o calor.

Aba 10 judiado pelas intempéries do tempo, tirador, espora e mango, e na camisa, o palheiro espantador de mutuca.

Pura estampa gaúcha, da pampa do nosso estado.

Seguem estes a trote largo revisando compromissos: “A mascarada tá chega da cria junto da colorada”, “Tá pintando carrapato no gado lá da Figueira”,

“Tem rodeio no Batovi, vou me arriscar numa armada.”

Ritual de dia após dia dos que vivem enforquilhados.

O dia se estende longo na dura lida campeira, curando os abichados, revisando os rodeios, pialando por desaforo; fazem história os campeiros,

Esperando o fim do dia para o recolher dos pelegos!

Fim do dia, ao trinquito, ao retornar para a estância, lava-se o lombo do cavalo e se retira a cabeçada; agradece-se ao companheiro pela buena campereada.

Logo após a recolhida, prepara-se o chimarrão naquele mesmo galpão. Segue o mesmo ritual: com costilhar de ovelha pingando graxa na brasa, se renova a energia dessa gente sem igual.