VIDA DE CAMPEIRO
história do saci pererê
sou filho do cerne de pau-ferro
nunca me assusto com o berro
por mais feróz que seja o tôro
quebrei o queixo do moro
fiz pingo adimiro a flor do ipê
de montaria
acostumado a estrebaria
e mui solto das patas
já me rendeu muitas patacas
em comércio de carreira
me fez comer poeira
em certa ocasião
veiaqueou me botou no chão
caí comi grama
fiquei por mais de semana
só na base do gemido
com o corpo todo doído
do tombo que levei
mas me recuperei
fui pra cima de novo
saí passear entre o povo
só no trote marchador
nunca fui domador
mas não me acovardo pra chimbo
ascendo o meu cachimbo
e saio soltando fumaça
bêbo água na cabaça
colhida da cacimba
sou um taura sopimpa
na hora do trabalho
num carteado de baralho
seja truco ou canastra
fui criado por madastra
um tanto quanto nervoso
o marreco e o mimoso
são meus bois de canga
dou lhes água na sanga
e alfafa no cocho
não fujo de toro mocho
em dia de rodeio
tambem não faço feio
em lida de marcação
agarro o bicho e boto no chão
seja à pé ou de acavalo
sou nota dez num piálo
desses por cima do lombo
que o bicho nem sente o tombo
quando plancheia no chão
o fogo esquenta o rincão
e a graxa pinga na brasa
o pilincho bate a asa
depois de botar no ninho
o seu ôvo pitipó
mas o filhote de socó
lá no ôco da tronqueira
na entrada da porteira
gritando apavorado
não sabe voar o coitado
essa é a luta diária
no berço da agropecuária
do coração da estância
disso eu não esqueci
em meu tempo de guri
que marcou a minha infância.
AUTOR:VAINER DE ÁVILA
GRUPO POETAR CIA DO PORTO
TEATRO E LITERATURA
CAPÃO DA CANOA RS