Sextina

 

Era uma vez um belo e grande parque,

Um planalto, um relvado, uma floresta

Onde as velhas paixões bordaram sonhos,
Às vezes me ressurgem as lembranças,

E sigo percorrendo uma colina

Culminando num lindo cemitério...

 

 

Era uma vez um santo cemitério...

Há quem ainda o chame de “meu parque”,

Enterrei um amor na mãe colina

E me perdi na volta, na floresta...

Quantas glórias e fúlgidas lembranças

De quando eu residia nos meus sonhos!


 

Quem eu amei, amou-me só nos sonhos,

Num castelo, no doce cemitério,

Onde compartilhamos as lembranças,

Um piquenique ao Sol ao sul do parque

E depois de perder-me na floresta,

Fui venerar a Lua na colina!


 

Era uma vez um beijo na colina,

Os lábios desenhavam tantos sonhos

E uma valsa noturna na floresta...

Terminado o balé no cemitério,

Fui deixado naquele grande parque,

Só, contemplando lúgubres lembranças!


 

Quero voltar à casa das lembranças,

A minha sesmaria na colina,

Mas não encontro lá no grande parque

O caminho à mansão dos nobres sonhos,

Todo trajeto leva ao cemitério,

Em frente ao lago negro da floresta...


 

Vozes de amor escuto na floresta,

Pecados transformaram-se em lembranças,

Eva andava, corria ao cemitério,

Adão rodopiava na colina

E cantavam os dois naqueles sonhos

Embalsamados todos no meu parque


 

CODA

Se perco o grande parque na floresta,

Resta chorar nos sonhos de lembranças,

Numa placa à colina, ao cemitério...


 

Publicado originalmente na I E-Antologia de Poesia Maximalista (2022)