As letras que uso

(I)

As letras que uso

A quem versejo

Expõem desuso

Na gente vil,

Que dois de mil

Achei no ensejo

De terra hostil;

Chança que vejo

(Fraqueza minha)

Que dano apinha

A egéria Lua.

(II)

Estro que eu uso:

O grã desejo;

Amor intruso;

Algum ardil

De anelo hostil

Que em versos rejo.

Pero hoste vil

Retém o pejo

Ao tentar linha

Oposta a minha

Em arte nua.

(III)

O metro que uso

Me aduz vicejo

Que hoje é escuso;

Mas um mandril,

Melhor que mil,

Faz um versejo

Fino e sutil

E benfazejo.

Mas vai sozinha

Em cultas linhas

Minha arte crua.

(IV)

Em breu que luzo,

Golpe que almejo

No verso obtuso

Tão mercantil,

Que num redil

Achei versejo

Melhor que a vil

'Arte' que vejo,

Mas na gentinha

Distante vinha

A dama Lua.

(V)

Estou confuso

Em meu desejo,

Que vou excluso

Em meu covil

Do amor gentil

De quem cortejo.

Não me é servil

Em mau ensejo,

Pulha mesquinha,

A trova minha

Malgrado a Lua.

(VI)

Maior acuso

Que amor protejo,

Fineza ao uso

Melhor feriu

Gente imbecil

Que outro gracejo.

Mas voeja vil

No primo ensejo

Como a andorinha

Que vai sozinha

E não se acua.

(VII)

E mesmo ocluso

No castelejo,

Mantenho o uso

Bem senhoril

De verso anil

Em meu lampejo

Quando estro é mil;

E ainda almejo

Branca gatinha

Que fosse minha

Se olvido a Lua.

(Tornada I)

Certo te acuso

Senhor Desejo

De ser intruso

Bem pueril

De amor fabril;

Pois num adejo

Paixão surgiu.

(Tornada II)

Se morro em pejo

Com dor vizinha

Tormenta é minha

E a culpa é sua.

De Lágrimas
Enviado por De Lágrimas em 06/11/2022
Código do texto: T7644167
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