LÍNGUA MORTA

A pior coisa que farás em tua vida;

poderia ser contravenção, assassinato,

mas é língua falecida,

só com o céu se comunica,

não à toa dominam-na eclesiásticos,

tartamudeando folhetim.

O apêndice, quando inflama,

Apendicectomia. O Latim,

quando enche o saco,

desce sarrafo, aí de quem reclama!

Todo o nome em latim batizado

morre pra si, se decompõe

de significado, se opõe

homo ludens, homo sapiens,

por que não diz homem, jogo?

Será assim pra toda humanidade,

pega a língua do mundo, bota fogo!

Eu sei que significa mais,

porém não é absurdo nomear

com algo que não diz?

Dirão que o latim está ao redor,

mas os ossos dos nossos antepassados

também estão, não significa

profaná-los deixá-los descansarem,

não saber latim não quer dizer

não saber a língua portuguesa,

que me importa a quinta declinação?

Se não sabe, há gramática,

em bom e não tão claro português.

Se o falam melhor quem sabe latim?

Não sei. Sei que se presta a arrogância,

nas mesas de bares e jantares [esses falastrões]

tem sempre uma palavra latina,

cuspo a sobremesa, faisões é o que são!

O latim é um retrato antigo

que ninguém tira da parede

porque é antigo e não está mais

quem colocou o quadro na parede,

enquanto nos arredores

descendentes gritam em italiano,

francês, espanhol, catalão,

galego, português, provençal e romeno.

Verdade seja dita: é só na academia,

só pra acadêmico, o pior do tipo,

o que justifica a extensão

de bruta perda de tempo

de estudar esta merda.

A história deve ser preservada,

mas não tenho que traduzir

um pastor e sua ovelha num livro velho.

Escrevi em português, poucos entenderão,

Errare humanum est.

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 30/03/2022
Código do texto: T7484637
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