QUENTES E BOAS

Rua acima égua elegante

puxa uma carroça airosa

e no meio bem fumosa

uma assadora gigante.

Dentro dela perfumadas,

bem quentes e estaladiças,

saltitando movediças

castanhas enfeitiçadas.

É dia de São Martinho

um domingo soalheiro

cada um com ar ligeiro

comia-as com bom vinho.

O vendedor Cinquentão

não tinha mãos a medir

eram tantos p' ra servir

como manda a tradição.

- Venham cá, os de Lisboa,

minhas castanhas comer

e sempre qu' eu as tiver

hão-de ser quentes e boas!

- Meu vinho bebam também,

que manda estalo com fé,

se acabar há água-pé

que é fresca e sabe bem.

Um fim de tarde sem sol

pela Baixa da Capital

houve bagunça e arraial

sem cabeça nem farol.

Já nem castanhas havia

que a polícia à castanhada

pôs todos em debandada

que até o Santo se ria.

Houve quem visse d' Arcada

toda a gente em pandemónio

lá em cima o Santo António

esse não deu por nada...

E o que podia ser festa

p' ra contentar o povão

atirou com tudo ao chão

e da alma nada resta !

Frassino Machado

In MUSA VIAJANTE

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 12/11/2007
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