QUENTES E BOAS
Rua acima égua elegante
puxa uma carroça airosa
e no meio bem fumosa
uma assadora gigante.
Dentro dela perfumadas,
bem quentes e estaladiças,
saltitando movediças
castanhas enfeitiçadas.
É dia de São Martinho
um domingo soalheiro
cada um com ar ligeiro
comia-as com bom vinho.
O vendedor Cinquentão
não tinha mãos a medir
eram tantos p' ra servir
como manda a tradição.
- Venham cá, os de Lisboa,
minhas castanhas comer
e sempre qu' eu as tiver
hão-de ser quentes e boas!
- Meu vinho bebam também,
que manda estalo com fé,
se acabar há água-pé
que é fresca e sabe bem.
Um fim de tarde sem sol
pela Baixa da Capital
houve bagunça e arraial
sem cabeça nem farol.
Já nem castanhas havia
que a polícia à castanhada
pôs todos em debandada
que até o Santo se ria.
Houve quem visse d' Arcada
toda a gente em pandemónio
lá em cima o Santo António
esse não deu por nada...
E o que podia ser festa
p' ra contentar o povão
atirou com tudo ao chão
e da alma nada resta !
Frassino Machado
In MUSA VIAJANTE