PEÃO ANACLETO

O sol desponta no horizonte

E com ele impiezo mi lida

Que é a sina de uma vida

Herdada desde a infância.

Nunca tive tempo de ser criança

Por que me fiz homem desde cedo

E mesmo que pequenote sendo

Tinha sobre mim o peso do mundo.

Desconfiado. Iracundo.

Fui meio guacho e solto a revelia

Tido por estas perdidas crias

Que n’outros pagos se aquerenciou.

Mesmo que alguém me negligenciou

Os meus passos já estavam riscado

Como quem risca na terra o arado

Abrindo sulcos feita trincheira.

Sempre fui sério nem dado a peleia

Por que desgosto já tive na vida

E se sabe como essas cosas finda

Certo aí que a morte não é só passagem

Quem vai querer antecipar outra paragem?

Se não a mando do Criador

Lhe restará outra dor

Além do arrependimento e a da amargura.

Mais vale se perder nos braços d’uma índia xirua

Para se ter algum contentamento

Por que a vida não é apenas sofrimento

Mas algum instante de gozo nos dá.

Se em nascer perdido algum mal há

Acertarei estas contas com alguém

Que nem mesmo o nome se tem

Mas deve ter existido no fio d'uma navalha.

Talvez me sirva de mortalha

Algum trapo velho que encontrarão,

Destes, abandonado pelo chão,

Como que a sorte foi o esquecimento.

Hei de encontrar o Firmamento

Para repousar a minha carcaça

Quem sabe alguém se apieda e me acha

Como no passado guacho me tornara.

É com menos fardo que se faz a caminhada

E um dia hei de estar sobre os pelegos

Com corpo curvo buscando sossego

Será começo d'outra ou fim desta sina

E meu olhar será para outra campina

Deixando nenhuma saudade para trás

Ficarão meus ossos e nada más!

Por que herança nunca tive, nem deixarei.

(*poesia ao estilo do versar gaúcho)

Leonir Garcia
Enviado por Leonir Garcia em 03/09/2021
Código do texto: T7334411
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