Memórias de uma fotografia

Uma vez mais, para meu prazer, vejo-me diante de outra fotografia do passado de minha Itabira. Um tempo no qual eu ainda não havia nascido, mas um passado visto e vivido pelos meus avós, meus pais, meus tios e outros amigos.

Como de costume, a imaginação insiste em conduzir-me até ali, àquele exato momento, àquele mesmo local focalizado, no qual não tive o privilégio de ter vivido. Por alguns instantes, imagino o que lá estiveram fazendo aquela gente minha, tua, nossa...

Chego a caminhar por aquelas vias e ruas tão vazias, nas quais ainda não circulavam os ruidosos veículos automotores da atualidade. Prossigo, observando suas sedutoras colinas, ainda intocadas pelas mãos e máquinas do capitalismo.

Atrai-me o viço das matas ainda virgens e o barulho das águas que serpenteiam pelas matas, ecoando suavemente o suspiro suave que brota do seio da terra fértil e de doce aroma. Um solitário sabiá canta preguiçosamente sobre uma árvore frondosa.

De repente, de uma janela salpicada de estrelas, que se abre, avisto uma senhora de cabelos já esbranquiçados pelo tempo. Aceno com a mão direita para ela e sorrio. Ela corresponde-me, acenando também, e sorrindo meigamente.

Do interior daquela casa vem uma leve brisa transportando o aroma inconfundível de um cafezinho bem caseiro recém coado. A hospitaleira senhora me faz perguntas sobre meus parentes e meus pais. Dialogamos, recordamos de pessoas... Ela então convida-me para um cafezinho; lá se iam as três horas da tarde.

É lógico que aceitei, prontamente! Muita conversa, como se fazia tão comum nos tempos de outrora. Saborosas broas e um apetitoso queijo caseiros, e aquele inigualável café adocicado com rapadura... Ah... que felicidade! Demorei-me bem, pensando que aquele tempo era meu também.

Saindo de lá, passei pela matriz do Rosário e caminhei um pouco mais, quando alguém convidou-me a um passeio. Acomodei-me sobre o arreio de um deslumbrante cavalo malhado e lá fomos nós, em busca de algum riacho para atenuar o forte calor.

Naquela direção, nada de riachos, todavia chegamos a um inusitado piquenique instalado na verde relva, sob a gigantesca sombra do imponente Pico do Cauê.

Ainda que em imaginação, eis que me vi naquele piquenique, em esplêndido convívio com meus avós e meus pais, ainda bem jovens, acompanhados pelo poeta Drummond, o Brás e o Batistinha. Foi deslumbrante imaginar-me ali, junto de todos eles...

As horas transcorreram brevemente, o bucólico luar itabirano já prenunciava uma belíssima noite. Em uma varanda próxima, dois ou três adultos faziam uma sonora seresta. Vozes felizes cantavam gostosas canções de outrora.

O tempo foi passando, e enfim finalizando, como um lindo e aconchegante sonho, no qual imaginei estar vivendo realmente.

Antigas fotografias trazem em si esta magia, de provocarem em muitos um desejo de terem também estado ali, naquele mesmo momento, sentindo toda a sedução de um tempo certamente menos agressivo e menos desumano que os dias atuais.

Tempos aqueles tão sublimes e exóticos, de muito mais paz, mais amor, menos vaidades e intensamente mais saudáveis!

Harock
Enviado por Harock em 26/10/2020
Código do texto: T7096648
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