NO BOLICHO DO OLVIDO
Sou do outro lado da Terra!
Do meu Rio Grande querido
onde o mar salgado e brusco
se derrama pela praia
no longínquo lusco-fusco
da tarde que a noite encerra...
Esse mar do navegante,
que murmurante desmaia,
pra renascer novamente
na marola espumejante
que preguiçosa se espraia
pelas dunas do Cassino
Sou daquela terra famosa
Berço de heróis legenda rios,
de areias esvoaçantes,
de planícies verdejantes;
que silenciosa se estende
até a encosta da serra...
Não lutei em crua guerra
nem me bati pelo nada...
mas rolei por esta terra
na defesa do direito
dessa gente e da peonada
no entrevero da leitura
Nunca montei um potro
nas lides fortes do campo
mas herdei com puro sangue
a rebeldia tenaz
da gente guapa do mato
que tudo constrói e faz!
Não nasci para guaipeca
nem pra criado mudo
Como guasca malacara
não me ajustei ao rito
do rodeio da tropilha
como vaca de presépio...
E se andei pela coxilha
amealhando amores
recolhendo agrestes flores
pra ofertar as chinocas,
nunca olvidei a gloria
da tradição farroupilha!
E no bolicho do olvido
recordo os dias gloriosos
de cívicas jornadas
quando na terra domada
derrubei oligarquias
com voz altissonante!
E hoje saudoso de tudo
recolhendo na amargura
o sonho de liberdade,
sinto um impulso vazio
no grito da geração
que ninguém quer ouvir...!
(Rio Grande-RS, julho de 1986)