O ÓPIO INOCENTE
“Das Festas Populares”
Ai o ópio, ai o ópio,
Ai daquele ópio venal,
Desliza pela avenida
Da inocente capital.
Deslizam marchas sem freio
Para animar o negócio
Ninguém vê o que é feio
Ai o ópio, ai o ópio.
Peixe é o que vem à rede
Que se serve ao natural
Mata-se a fome e a sede
Ai daquele ópio venal.
Vaidade, tudo é vaidade
Com bela emoção servida,
Cada marcha da cidade
Desliza pela avenida.
Há sons e aromas no ar
Numa desordem infernal
Imagens que dão que falar
Da inocente capital.
Manjericos e sardinhas
Dão cor e vida ao turismo,
Estrangeiros e alfacinhas
Mais que país é bairrismo.
Foi dia de matrimónio,
Quem havia de dizer,
Um tal de Santo António
Fez água na boca crescer.
Marcharam ricos e pobres,
Quase iguais na ambição,
Marcharam bolsas de cobres
E pozinhos de mão-em-mão…
No corpo há gestos virais
E há esp´ rança dentro do peito
De cansaço não há sinais
Nem memórias de respeito.
Que o diga a Edilidade
Com sorrisos protectores
Tem afectos pra cada idade,
E mil braçadas de flores.
Com arcos e serpentinas,
Manjericos de cabeleira,
Minhas quadras repentinas
Dão mais vida à brincadeira.
Dizem-se “festas populares”
Estas Festas de Lisboa
Assemelham-se a avatares
Ora certos, ora à toa.
Não há festas sem poesia
Nem bailes sem dançarinos
Festas populares-fantasia
Com corações libertinos.
Esgotam-se as emoções,
Amigos e familiares,
Não há horas, só foliões
Pois são festas populares.
Nesta Cidade festiva
Ninguém sabe quem é quem
Ópio pelo corpo à deriva
Inocência, como convém!
Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS