DIA DO GAÚCHO - 20 de setembro de 2018
G A Ú C H O - Tela de Glaucia Scherer
Ialmar Pio Schneider
Já nasceu se arrastando na coxilha
com a sina de viver a camperear,
pois o sangue que tem de sua família
é viver gauderiando sem parar.
A bandeira da pátria, estendida
no verde pampa ele viu sorrindo
ao enxergar na aurora a luz da vida
os seus olhitos brilhantes ferindo.
Traz por herança dentro de suas veias
tanto amor devotado ao seu país,
mas enfrentando as mais cruas peleias
mata com honra ou morre e é feliz.
Ama a Jesus com todo o coração,
Virgem Maria é sua mãe querida
a quem presta sagrada devoção
e a quem daria até a vida.
Jesus na sua linguagem foi gaúcho
e viveu nestes pagos sempre em flor,
vestido pobremente sem ter luxo
semeando em toda a parte seu amor.
Usa chapéu grande, poncho, bombacha,
um lenço sempre atado no pescoço,
uma adaga, uma garrucha bem macha
e um bueno tirador de couro grosso.
Um par de botas em que vão amarradas
as chilenas que sempre vão cantando
deste Rio Grande as cândidas toadas
como em vozes de chinas suspirando.
Tem uma china pra afagar seu peito,
tem a cordeona pra amansar sua alma,
tem um pingaço que caminha ereto,
tem os poemas de uma noite calma.
E tem um laço pra laçar novilhas,
tem uma toada pra espantar as mágoas
e tem os quero-queros das coxilhas
e tem dos lagos mansos azuis águas.
E tem um espumante chimarrão
que é a seiva da terra Riograndense
e tem as lendas do feliz rincão
e tem uma alegria que lhe pertence.
É rico por ter tanta riqueza
num peito que não leva desaforos,
mas que apesar de tudo é sem dureza
e repleto de rúbidos tesouros.
Gauderiando pelo pago imenso
leva uma vida como a de lagarto,
deixa abanar o seu bonito lenço
mostrando a todos um olhar de farto.
Leva nos lábios quando alegre um riso
e quando triste vai seguindo aflito;
no bolicho que encontra empina um liso
praticando ali seu xucro rito.
Verdadeiro lutador pelo ideal,
sonhador de quimeras verdadeiras
tem a rijeza dum ardor bagual
e tem poesia das tardes brasileiras.
Quando pego a falar dum índio macho
parece que não posso mais findar
e estes meus versos eu feliz encaixo
num rude e barbaresco linguajar.
Gaúcho pra falar bem a verdade
é uma figura que não tem de igual;
forte, valente e boa barbaridade
premiando o bem e castigando o mal.
Quando a morte lhe chega se debruça
sobre a terra do pago sempre em flor
e fortemente ao fenecer soluça
o nome majestoso do Senhor.
E então arriba para o céu azul
com ânsias de viver com seu Patrão
que gauderiou no Rio Grande do Sul,
sua alma florescida em tradição.
Publicado no jornal O Dia de Porto Alegre - em 1960