O TROPEIRO

Meu pai foi um poeta

Letrado e diplomado

Mas por paixão e tradição

Resolveu ser um tropeiro

Era muy bueno no tiro de laço

E não tinha zebu brabo

Que escapasse do seu braço.

Percorreu todo este pampa

Sempre tocando a boiada

Naquele tempo não tinha condução

Era a tropa toda na estrada

Muitas noites como teto

Tinha o céu estrelado

E com o poncho enrolado

Era o melhor cobertor

E assim dormia ao relento

Por perto o cachorro ovelheiro

O seu melhor companheiro

Male male raivava o dia

Preparava o chimarrão

E junto com os peão

mateavam

Até o mate ficar lavado

Depois juntava a boiada

E voltavam para a estrada

Buenas eu era criança

Mas ainda trago na lembrança

Quando meu pai voltava

Do colo o abraço apertado

E a maleta cheia de presente

Que felicidade a gente sente

Então ele passava

Uma semana em casa

Depois voltava para a estrada

Sempre tocando a boiada

Duma feita ele partiu

Para as bandas de Porto Alegre

E já havia bandiado o mês

E meu pai não voltou

Então saiu um boato

Que os tropeiros haviam morrido

Na mira de uns bandidos

Que haviam roubado toda a boiada

Minha mãezinha vivia chorando

E eu não entedia nada

E todas tardinha eu ia para porteira

Esperar meu pai chegar bem faceira

Um dia avistei de longe

O cavalo do meu pai

E o cavaleiro eu não conheci

Bombacha velha e rasgada

Barba tão grande de assustar

E quando eu ia disparar

Do cavalo ele desceu

Era o meu paizinho

Que enfim apareceu

Depois ficamos sabendo

Do acidente que aconteceu

Um peão que quebrou a perna

Enfim ficaram esperando a melhora

Abrigados em uma taberna.

Desde então meu pai prometeu

Nunca mais voltar para estrada

E assim encerrou a vida de tropeiro

Com aperto no coração

Mas a família em primeiro lugar

Como manda a tradição!