Para começo de história
Deus é gaúcho de sul a norte
De bota, bombacha e espora
Cavalgou a campo a fora
Com pingo buenacho e forte
Abençoou nossa tradição
Dando exemplo de bondade
Criou os costumes, a hospitalidade
Numa roda de chimarrão
Que seria compartilhada
Por toda essa gauchada
Num ritual de comunhão
Pois estava cansado e aflito
Num gesto santo e sagrado
Já exausto, abichornado
De tanto matear solito
Sentado em redor da fogueira
Ficava pensando na vida
Depois de um dia de lida
Ouvindo o chiar da chaleira.
Teve dias muito inspirados
Criou dois gaúchos, a Eva e o Adão
Mas deu ordem de patrão
Pra viverem comportados.
Um dia, não sei qual foi a razão
Estava o trio de cochicho
A serpente que era bicho
Lá na cocheira atrás do galpão.
Os três: a cobra, Adão e Eva
Numa desobediência maleva
Que criou tamanha confusão
Aí o rebuliço foi cabeludo
Durou toda a manhã
A Eva que deu a maçã
E o Adão comeu com casca e tudo!
Foi aí que Deus virou os arreios
Chamou toda a cuscada
Foi aquela tamanha disparada
A tiro de garrucha e estalos de relhos.
Receberam as ordens do pai
Já que viviam meio pelados
Cruzaram o rio a nado
Pro outro lado do Uruguay.
Mas isso a muito tempo se passou
É motivo de tanto sofrimento
Por causa desse procedimento
Comemos o pão que o diabo amassou!