PAISANO
Botas gateadas e guaiaca
E na fivela em ferradura
Luzia ouro e prata pura
Que dava um ar de respeito
Tratava com muito jeito
Podia ser velho ou moço
Cruzada sobre a cintura
O nagão quarenta e quatro
E a cherenga cabo de osso
Tinha um ar de veterano
A barba grande por fazer
Um sombreiro castelhano
Com semblante de Uruguai
Apelidado de paisano
Olhando sempre por baixo
Um bigodão desabado
Que cruzava o barbicacho
Era quem vinha na culatra
No comando da tropeada
Com destino ao saladeiro
Pra matança da boiada
Esbarrava em santo amaro
A trés léguas da charqueadas
E a tropa vinha a passo lerdo
Já requerendo a possada
Na ordem pra descansar
A tropa estanca de supetão
Estende o breu da escuridão
Em noite de lua amoitada
Desencilha a peonada
Pra descanso da jornada
De repente por quase nada
O estouro da boiada
Foi aquela barbaridade
Virgem maria amada
Mil e quatrocentos bois
Campo afora em disparada
Assusta-se quem nunca viu
Um estouro de boiada
Levando tudo por diante
Numa fúria desenfreada
Depois que a tropa deu alce
Foi-se calcular o estrago
Desce-me um gosto amargo
Ate me da uma agonia
Ao contar este relato
Do tal do dito paisano
Guardo na retina o retrato
Daquele triste final de dia
Vaqueano de tantas jornadas
Daquele jeito morria
O corpo todo esfolado
Dos cascos da gadaria
As lembranças deste fato
Ate minha alma arrepia
Roupa em farrapo e sangue
Na mais cruel judiaria
Nunca mais eu toquei gado
Nem lidei com gadaria
Quando vejo tropa da estrada
Ate minha alma arrepia
Relembro o gado em disparada
E dos tropeiros a gritaria
Fiz promessa em frente a cruz
Em condolência aquele dia
Rezar sempre um pai nosso
Na hora da ave maria
No braço de minha guitarra
Uma prece a nosso senhor
Que proteja tropeiros e ginetes
Seja onde o lugar que for
nos rodeios ou campo a fora
Ou num fundão de corredor
Aos ficam sofrendo a perda
Deus amenize sua dor
Meus respeito a peões campeiro
Deste humilde pajador