SINFONIA INACABADA
No momento, ardo-me em brenha,
sem me caber mais destroços, nem dores,
nem vazias e inspiradoras
prisões.
à lama ou à tona
há que ser dado novamente,
a seu tempo, um novo grito:
um grito a rasgar a seca vastidão,
um estúpido grito por algum anjo branco
ou por alguma larva obscena
[ou por qualquer coisa,
viva ou morta, possível ou impossível,
que me alivie da extremidade
da corda].
Um novo grito de liberdade
e de esperança às ilusões e aos leitos
da variabilidade humana
sobre cujo porvir
sopram prenunciadores ventos contrafeitos,
a carregarem outro grito, de vital
insanidade,
– umidamente encharcado
a meias nuvens e meios chãos, a meias luzes
e meias escuridões, a meias asas
poeiras, ossos e ondulações –
de um homem perdido
e inexoravelmente envergado
com seus íntimos reflexos a refratarem aflitas luzes
e se esvaindo às retesadas sombras.