MORTE DO MOURO GUACHO
Eu tive um rosilho mouro
Meu pingo de estimação
potranco criado guacho
Pelas voltas do galpão
Tratado a pasto verde
E comendo milho na mão
Domado se fez cavalo
Meu orgulho de peão
Flete de bancar nas rédeas
Florão de pingo campeiro
De trompa e passar por cima
Bueno pra lida e ligeiro
Tudo que eu ensinava
O moro sempre aprendia
Um comando de assobio
Meu cavalo obedecia
Certo dia uma trompada feia
De um touro de aspa fina
Pegou o moro de mau jeito
Pra morte triste assassina
Ferido foi se escarrapachando
Diante a morte a impotência
De anca caída no chão
Bombeava triste a querencia
Na dor escavava aterra
Ansioso para o galope
Como se atado o palanque
Atirado a própria sorte
Depois foi se planchando
Aos pouco esmorecendo
Os olhos já morejavam
Na sua agonia de morte
Ficava olhando pra mim
Parecendo até suplicar
Que eu um vivente qualquer
Pudesse a ele salvar
Nunca tive a pretensão
De ser um veterinário
O que aprendi foi tão pouco
Apenas o necessário
Mas me dava uma agonia
Ver meu cavalo se esvaindo
Sobre uma possa de sangue
Ele ali no meio gemendo
Aos pouquinho se aquetando
E foi parando o coração
Chorei abraçado a seu corpo
Ali estirado no chão
Depois pedi licença ao patrão
E sobre o tronco da figueira
Bem no fundo da mangueira
Cavei uma cova pra ele
Enterrei junto as encilhas
E tudo que era meu e dele
Lembrei, cavalo só tem valor
Pra quem vive do arreio
E o contra mestre o esteio
Pro campeiro e o sustento
Alem do triste sentimento
De se perder um parceiro
A alma parece chora por dentro
No momento derradeiro