o homem e o tempo
O vento revolta os fiapos
Da melena branca
Daquele índio guapo
Tanta ternura no olhar
De muito céu e campo
Semeaduras e distancia
Campeiros olhos que faziam
Distinta esta querencia
A rudez dos pês descalços
E bombacha remendada
Que se rasgaram nos espinhos
No caminho das estradas
Braços que foram fortes
Tão cansados e vencidos
Já não podem bolear o laço
Nas aspas dos fugidos
Aquelas mãos do arado
De primitivo e tropeiro
Que manejavam as rédeas
Nos afazeres campeiro
A muito não afaga as garras
De uma encilha boena
Nem o porongo morno
Da cuia morena
Mas o tempo não apaga
As passagens vividas
Nem as curvas tortas
Dos acasos da vida
Nem o verde da esperança
Que renasce a cada dia
Na fecunda sementeira
Donde brota a poesia
Não há de passar
Tal qual retalhos
De nuvem transparente
Como o singular arco-iris
Que a água límpida reflete
Seu fulgurante fosforecer
Sem guardar seu retrato
Tal qual o sonho fugas da noite
Que se dissipa ao amanhecer