o homem e o tempo

O vento revolta os fiapos

Da melena branca

Daquele índio guapo

Tanta ternura no olhar

De muito céu e campo

Semeaduras e distancia

Campeiros olhos que faziam

Distinta esta querencia

A rudez dos pês descalços

E bombacha remendada

Que se rasgaram nos espinhos

No caminho das estradas

Braços que foram fortes

Tão cansados e vencidos

Já não podem bolear o laço

Nas aspas dos fugidos

Aquelas mãos do arado

De primitivo e tropeiro

Que manejavam as rédeas

Nos afazeres campeiro

A muito não afaga as garras

De uma encilha boena

Nem o porongo morno

Da cuia morena

Mas o tempo não apaga

As passagens vividas

Nem as curvas tortas

Dos acasos da vida

Nem o verde da esperança

Que renasce a cada dia

Na fecunda sementeira

Donde brota a poesia

Não há de passar

Tal qual retalhos

De nuvem transparente

Como o singular arco-iris

Que a água límpida reflete

Seu fulgurante fosforecer

Sem guardar seu retrato

Tal qual o sonho fugas da noite

Que se dissipa ao amanhecer

ZECADIVINO
Enviado por ZECADIVINO em 14/11/2015
Reeditado em 24/11/2022
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