QUARTO DE LUA

Quando teu naco prateado surge por trás da quincha

que a noite usa de vincha num turvo "cuarto de luna"

depois de cerrar lobuna pra o brilho dos olhos teus

desfalece no apogeu da alvorada que se alumbra

É no aconchego do catre que embreto a aragem minuana

espantando lixiguana num acalanto profano

e um negaceio febril de madrugar geada vaqueana

se aquieta aos tironaços no abraço do paisano

Quarto de lua, lusco-fusco de candeeiro

que posa de intermeio entre a nova e a cheia

enquanto à meia luz uma silhueta bruxuleia

numas melenas morenas um pensamento permeia

Quando a noite abre cancha para o sinuelo luzeiro

me encontra junto ao brazeiro num matear bem despassito

tragando o amargo solito mas de sorriso a contento

com vetigios de pensamento na presilha do cambicho

Quarto minguante ou crescente nestas manhãs de domingo

troteia ao largo comigo quando o sol aquece o dia

e uma saudade guria vem se engarupar no pingo,

só resta " recuerdos" de lua para fazer companhia.

glossário:

quincha= canto do telhado de galpão

vincha= fita usada principalmente por indios para prender os cabelos, passando pela testa

minuana= referente a minuano, vento frio do sul do Brasil

lobuna= cor acinzentada e escura da pelagem de cavalos

lixiguana= refere-se ao frio da noite

vaqueana= refere-se a experiente, com sabedoria, no caso "uma geada antiga"

sinuelo= o que vem a frente na tropa guiando os demais animais

cambicho= namoro, ou pessoa de quem se está enamorado (a)

Cesar Tomazzini
Enviado por Cesar Tomazzini em 07/05/2015
Reeditado em 29/09/2015
Código do texto: T5233815
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