QUARTO DE LUA
Quando teu naco prateado surge por trás da quincha
que a noite usa de vincha num turvo "cuarto de luna"
depois de cerrar lobuna pra o brilho dos olhos teus
desfalece no apogeu da alvorada que se alumbra
É no aconchego do catre que embreto a aragem minuana
espantando lixiguana num acalanto profano
e um negaceio febril de madrugar geada vaqueana
se aquieta aos tironaços no abraço do paisano
Quarto de lua, lusco-fusco de candeeiro
que posa de intermeio entre a nova e a cheia
enquanto à meia luz uma silhueta bruxuleia
numas melenas morenas um pensamento permeia
Quando a noite abre cancha para o sinuelo luzeiro
me encontra junto ao brazeiro num matear bem despassito
tragando o amargo solito mas de sorriso a contento
com vetigios de pensamento na presilha do cambicho
Quarto minguante ou crescente nestas manhãs de domingo
troteia ao largo comigo quando o sol aquece o dia
e uma saudade guria vem se engarupar no pingo,
só resta " recuerdos" de lua para fazer companhia.
glossário:
quincha= canto do telhado de galpão
vincha= fita usada principalmente por indios para prender os cabelos, passando pela testa
minuana= referente a minuano, vento frio do sul do Brasil
lobuna= cor acinzentada e escura da pelagem de cavalos
lixiguana= refere-se ao frio da noite
vaqueana= refere-se a experiente, com sabedoria, no caso "uma geada antiga"
sinuelo= o que vem a frente na tropa guiando os demais animais
cambicho= namoro, ou pessoa de quem se está enamorado (a)