BUSCANDO MEU DESTINO
Se busco na noite escura
uma luz pra minha vida,
é que tenho a alma perdida
sem esperança e ilusão,
imploro nesta oração
do meu interior em apuro,
que agora vive no escuro
dependendo dum clarão.
Estou fazendo um pedido
ao "Negro do Pastoreio",
pra me tirar deste enleio
que me atormenta e me abate,
ainda nem começou o embate
e já me sinto ferido,
mesmo que galo vencido
no começo do combate.
O mesmo que boi de ponta
no rumo duma charqueada,
quando não vale mais nada
depois de tanto ter feito,
sangrando seu próprio peito
magoado, causando pena,
cabisbaixo como uma hiena
enjaulada em seu direito.
Como quero-quero triste
gritando desesperado,
vendo seu ninho ameaçado
por algum inconsequente;
como o zebu, um valente,
foi do rodeio escorraçado,
vai mugindo acabrunhado
como o sol sem o nascente.
Estou como gaita velha
com buracos pelo fole,
como a flor da “maria mole”
depois de despetalada,
como a luz da madrugada
minguando, quase morrendo,
mesmo assim, eu vou vencendo
os solavancos da estrada.
A luz que agora preciso
é luz pra minha razão,
é a mesma luz que um peão
invoca quando ao lombilho.
Sou canção sem estribilho
buscando sempre o destino,
lembro, que desde menino,
este pingo magro eu encilho!
Rio de Janeiro - RJ,
21 de outubro de 1987.