ROMANCE DO JUVÊNCIO
Como um angico troncudo
que o tempo não extermina,
mas a sina - índia maleva –
que sempre nos traz surpresas,
tristemente como a Cristo
lhe reservava uma parte:
pois inimigo covarde
lhe mataria de manhã.
No aço de muitas cruzadas
temperado a ferro e fogo,
foi crescendo sempre acuado
como tatu em noites claras,
nas lutas pra conservar
as Estâncias Rio-grandenses,
que estrangeiros desalmados
saqueavam, depois fugiam...
Não respeitavam ninguém
nem velhos, tão pouco crianças;
Depois que tudo faziam
botavam fogo nos ranchos,
só deixando nos seus rastros:
dor, devastamento e ódio;
marcando com ferro quente
o piazito que crescia.
Andarilhou nas querências
sempre buscando o seu "EU",
arando terras incultas
para semear esperanças...
... Alegre esperou a colheita,
mas, as sementes secaram.
A vida - árvore espinhosa –
só mostrou-lhe desenganos.
Recebia com humildade
os golpes do seu destino,
rodopiava e se aplumava
agradecendo o Senhor.
De certo ELE quer que mude
meu modo de ser, descrente,
só crendo quando recebia
puaço por cima de puaço.
E na sua vida de duende
um certo dia foi sorteado,
para servir o Exército,
sonho de todo o rapaz.
Chegou encima do cerro
entonado como um Deus,
auscultando a voz do vento
sua linguagem andarilha.
Após servir o Exército
retomou à sua Querência,
mas, ficou por pouco tempo,
tinha uma luta interior
contendo revoluções
e não sabia o que fazer,
pois nem a chinoca
linda idolatrada o prendia.
Andarengueou em Vacaria
sem querência e parador,
e bandeou pra Passo Fundo
pra incorporar na Brigada
Gloriosa, do nosso Estado,
de fama tradicional,
mas o destino maleva
o surpreendia novamente.
O vento sopra onde quer
nós não sabemos senti-lo.
Foi numa boca de noite
que ele chegou abombado,
(lembro-me quando piazote
ouvindo sem dar palpites)
disse: Dica eu tenho fome
e preciso me esconder.
Não quis contar o motivo
- eu cá comigo imagino, -
por que tinha desertado:
- pois o quiseram vergar,
como vara que se dobra, -
mas, como angico troncudo,
com cerne bom, de primeira,
preferiu ganhar o mundo.
Gaúcho que não chorava
mas porém sabia sentir.
Voltando ao pago se viu
envolto em rixas antigas,
em seu interior habitava
sonhos de civilidade,
saiu à procura do moço
para apaziguar as partes.
Porém, o moço pensando
que lhe quisesse bater,
(conhecia a fama de taita
que carregava o JUVÊNCIO),
numa manhã de domingo
quando o povo saia da missa,
em luta bagual tombaram
engalfinhados no chão.
Não houve grito ou lamento
na fria manhã de verão,
somente o baque dum corpo
desestribando da vida.
No vermelho do horizonte
moldou-se um quadro de dor,
aliviado saiu o covarde
depois do tiro certeiro.
Morreu ali mesmo o coitado
varado por uma bala,
e por isso eu não entendo
os desígnios desta vida.
Como é que pode morrer
tão incompreendivelmente,
com tão buena intenção
o índio fogoso JUVÊNCIO...