SAUDADES NATIVISTAS
Eu sinto dentro do peito
um mar sem fim de tristezas,
chorando toda a pobreza
que mora neste meu ser.
Já não sinto mais prazer
numa roda de chimarrão,
meu peito velho pagão
vivendo a se maldizer.
Meu grito de liberdade
vai morrendo na garganta,
quando o humilde se levanta
e o poderoso se dobra,
o ferido se recobra
e o sábio perde o saber,
o medo de não mais crer
fez em mim, estranha obra.
Nem o ruído fascinante
preludiando temporal;
Nem a grande mortandade
assolando nosso mundo;
Nem o pesar mais profundo
espalhado pela terra;
Nem o prenúncio de guerra
faz-me menos moribundo.
Nem o sorriso das crianças
festejando aniversários;
Nem velhos guascas lendários
cavalgando os horizontes;
Nem ca beleza dos montes
no sul de Minas Gerais;
Nem as RUÍNAS PERENAIS
faz-me menos mastodontes.
Nem a beleza do céu
limpando-se após as chuvas;
Nem a beleza das luvas
quando em mãos esculturais,
modificam os meus ais
pra que eu possa sofrer menos,
nem alguns gestos pequenos
posso esquecê-los jamais.
Nem a beleza da flor
desabrochando à manhã;
Nem a mística pagã
duma alvorada pampiana;
Nem o amor que nos irmana
e nos une lado a lado;
Nem o amor idolatrado
do soldado à sua paisana;
Nem o carinho sentido
por um casal de amantes;
Nem os gritos triunfantes
festejando suas conquistas;
Nem o garbo das revistas
passadas por Generais,
nunca serão iguais
às saudades nativistas.
Nem o aconchego da china
que disponho diariamente
nesta min’alma eloquente
querendo tudo, desenfreada;
Nem a brancura das geadas
que nós admiramos tanto;
e nem mesmo o suave canto
sinfonia na madrugada.
Nada... nada se nivela
Ao menor naco de chão,
do meu Rio-Grande pagão,
destorcido e melenudo,
pois, eu garanto que tudo
me aflora neste momento,
aumentando meu tormento
pelo pago topetudo.
Eu canto com humildade
tudo que lá eu deixei,
todo tempo que esperei
sofrendo mui tristemente,
para voltar bem contente
ao chão que tanto adoramos,
o velho rincão que amamos
como terra com semente.
Há de ser por pouco tempo
a nossa separação,
pois distante do meu chão
eu sinto-me contristado
e nem o meu outro lado
é capaz de me ajudar,
mesmo morto hei de voltar
ao Rio Grande idolatrado.
Amambaí-MS, 7 de agosto de 1975.