A N D E J O

Sou um cantor deste Rio Grande

na rima xucra e bravia,

pois aqui sem heresia

vou versar meu sentimento,

tenho por contentamento

cantar o belo do pago,

sentindo o dócil afago

desse seu pampeiro vento.

Gosto muito de tropear

pelo pampa rio-grandino,

extraindo o verso felino

do fundo do coração,

inspirado em Tradição

do Rincão Imaculado,

por todo o sangue espalhado

pela glória deste chão.

Ser gaudério é meu destino

isto é herança paterna,

pois nem a velha caserna

taluda, onde fui criado

e o amor que tenho guardado

à minha mamãe querida,

puderam em minha vida

mudar meu rumo traçado!

Em minhas muitas andanças

de corredor em querência,

vou sorvendo a guasca essência

que os poetas foram deixando...

Sai de meu peito acenando

os versos que hoje faço,

em estrofes, passo a passo

eu ando versificando...

E de repente ouço um grito

num alerta do posteiro,

repontando o madrinheiro

pela frente da tropilha,

desfilando na coxilha

sem ao menos ter paragem,

ajeitando na passagem

minha linguagem caudilha.

Eu tenho por "Tapejara”

o velho alcunha gaudério,

tendo como refrigério

o vento xucro do pampa,

trazendo na minha estampa

sorvido trago após trago,

todo o esplendor do meu pago

seiva nata, em xucra guampa.

E cansado da tropeada

vou sorvendo um chimarrão,

ao pé-do-fogo-de-chão

com toda minha paciência,

mais o pincel da insistência

molhado na inspiração,

transformando o meu Rincão

num todo em reminiscência...

Aqui vos dou de presente

este punhado de versos,

gadito que vão dispersos

pela coxilha pampória,

na canhada da memória

deste pago estremecido,

onde o gaúcho mui aguerrido

forjou uma estirpe de glórias.

Tapejara Vacariano
Enviado por Tapejara Vacariano em 06/08/2014
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