MEU VERSO
Quem me folhar, não repare
na pobreza do trabalho,
em cruzei por cada atalho
que era só puro atoleiro,
costeando o velho carreiro
da mangueira imaginária,
pela coxilha lendária
e o velho Galpão Campeiro.
O verso bagual que evoco
nasceu do rústico tranco,
nos choques de ferro branco
em disputas de paisano,
onde o vento haragano
formou assim sem rebeldia,
esta primeirona cria
deste gaúcho serrano.
É um laço que eu trancei
nos atropelos dos anos,
com tentos de desenganos,
de alegria e de tristeza,
sentindo à face a aspereza
da rude desilusão,
como um potro redomão
esporeado com rudeza.
Meus versos são mui simples,
são coisa pra qualquer um,
serão o desjejum
para alguma alma inquieta,
minha língua é incorreta
tão pouco é instruída,
tenho por lema na vida
não correr, sem ver a meta.
Esta cria de puro pelo
de raça bem apartada,
está pronta pra jornada
da crítica e do abandono,
pra quem não conhece o dono
nem sempre o artigo presta,
mas um consolo me resta
a Tradição é meu trono.
Nasci entre o pampa e o céu
em meio a cruenta refrega,
trago o gosto da macega
e da flor de maçanilha,
sou saudade que entropilha
no peito da índia guasca,
sou pau-ferro que não lasca
nem tão pouco se humilha.
Este verso que hoje canto
com sentimento no peito,
com simplicidade eu ajeito
vou alisando bem o pelo,
com pouca ciência e modelo
dum muito mau domador,
pra ser lá no corredor
o tourito sinuêlo...
Sou rancho de Santa Fé
guardado com muito afinco,
sou clarim de Trinta e Cinco
no bico do quero-quero,
sou potro xucro que espero
a hora do meu porvir,
pra então me fazer sentir
no chão que tanto venero.