Romarias
“Valei-me meu Padinho Ciço e mãe de Deus das candeia...”
Uma oração em forma de cantoria,
Anuncia o início de mais uma romaria.
Vejo o pau-de-arara chegando,
Os romeiros em festa rezando,
Com um sorriso simples. Um brilho no olhar,
O coração acelerado por estar nesse lugar.
Chegando na Matriz, Socorro ou Franciscano,
Acendem mais uma vela em devoção,
Ao Padre Cícero que do Nordeste é o Santo.
Depois sobem ao alto do horto com emoção,
Felizes tiram fotos como se pegassem em sua mão,
Escrevem seus nomes na estátua para ali então registrar,
A presença de mais um devoto que faz dessa cidade,
Uma terra santa e imaculável em sua divindade,
Construída pelas mãos do santo que no céu está por nós a orar.
Quem é católico no sertão nordestino,
Pelo menos uma vez na vida precisa ser peregrino,
Sair de suas terras e viajar léguas para Juazeiro visitar,
Pisar nesse solo sagrado e de joelhos no chão poder rezar,
Pedindo proteção, graças ou simplesmente agradecer,
Ao padrinho por cuidar, desse povo que na seca vive a sofrer.
Fevereiro está chegando e é hora de se preparar,
Pegar seu candeeiro e depressa se arrumar,
Para a festa de Nossa Senhora das Candeias,
Que traz romeiros de inúmeras cidades,
Não importando classe, cor ou idade,
A fé em Padre Cícero corre em suas veias.
Deixando a cidade nessa época toda cheia,
Os ranchos e hospedarias já estão lotados,
Mas os visitantes não parando de chegar,
Casas tornam-se então pousadas para romeiro se hospedar.
Chegado o dia da procissão, todos estão preparados para ir,
Velas e candeeiros se acendem, a Santa já vai sair;
As ruas cheias de peregrinos já podemos contemplar,
Chapéu de palha na cabeça e o terço na mão não podem faltar,
Mais um bendito se canta e lágrimas começam a rolar.
Findados os festejos chegada é a hora de se despedir,
Balançando os chapéus logo eles começam a partir,
Com a certeza que na próxima romaria tornarão a vir.
Passaram-se os meses e a setembro chegamos,
A cidade toda se agita e começa a correria,
Cenas que se repetem periodicamente todos os anos,
Tudo já está pronto para mais uma romaria.
A padroeira do Juazeiro homenageada será,
Nossa Senhora das Dores a quem o padrinho tinha devoção,
Inúmeros romeiros começam a chegar,
Chegam de moto, a pé, de bicicleta, ônibus e caminhão.
Na igreja dos franciscanos a buzina festeja,
Dando voltas na estátua de São Francisco para que o povo veja,
Sua alegria de mais uma vez em Juazeiro estar.
Chegado o dia quatorze as ruas em festa começam a se transformar,
A procissão dos carros anima toda cidade por onde eles forem passar,
Todo povo vai para rua e por horas ficam por lá,
Aplaudindo, rezando e saudando os romeiros a festejar,
Dos carros e caminhões jogam balas e bombons para agradecer,
A receptividade calorosa de todos que param para ver.
Já no outro dia a despedida é tradicional,
Na praça da matriz fogos anunciam a despedida,
Um momento único anunciando que a romaria chegou ao final,
Aqueles que vieram preparam sua partida.
Antes que pudéssemos falta sentir,
A romaria de finados está para começar,
Esta é considerada a maior e vamos nos preparar,
Para que os visitantes queiram voltar antes mesmo de partir.
Muitos vem ao Padre Cícero homenagear,
Pois na Capela do Socorro ele está a descansar,
Outros tantos chegam com a intenção,
De visitar aos seus, que sepultados nessa terra estão.
Velas se acendem em prece pelos que já pereceram,
Outras são acesas para pedir proteção aos que vivos permaneceram.
Os cemitérios ficam lotados com todo esse povo,
Que trazem sua fé e aqui encontram um renovo,
Fortalecendo suas crenças e toda sua devoção,
Naquele que dedicou sua vida a catequizar esse sertão.
Juazeiro do Norte é um local de fé, trabalho e oração,
Abençoada por Deus e pelo Padre Cícero Romão,
Que fundou essa cidade e dedicou a sua vida,
Até o dia em que num adeus fez sua partida,
Para ao lado do pai poder pedir por todos nós,
Deixando-nos tranquilos ao saber que não estamos sós.
Essa terra recebe visitantes todos os meses,
Alguns destes, durante o ano, visitam-nos várias vezes.
Cearense do Século nosso padrinho foi eleito,
Reconhecimento por tudo aquilo por ele feito,
Tabuleiro Grande em Juazeiro do Norte ele transformou.
Até Lampião, temível cangaceiro, essa terra respeitou,
Daqui saiu um grupo que a Franco Rabelo derrotou,
Mostrando a força de nossa gente que o Padre Cícero tanto amou.
Cantada muitas vezes foi por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião,
Até Tim Maia em sua música ao padrinho fez alusão.
Quero portanto a todos ressaltar,
Que as portas estão abertas para quem quiser nos visitar,
Mas aos amigos quero prontamente avisar,
Aquele que vem aqui, por muito tempo deseja ficar.