NO PEALO DA SAUDADE

Quando desponta numa nesga do passado,

esta tal de saudade, vezes surge galopando

e faz tremer, balançar forte o pensamento,

até do gaúcho durão, no lidar com sentimento,

surpreendendo o cuera outrora encambixado

e faz ele triste, mesmo dentro dum fandango!

Braço forte, lépido no laço, altivo no galope.

Que ironia, ver um tal bravo simplesmente,

num pealo, bem apertado e de todo inerte,

da tal saudade, campeleando a indócil trote,

fazendo que o amor passado, fortemente,

a manotaços, retorne à lembrança e desperte!

Faceiro sobre a sela ou montado em pelo,

ganha sempre do potro bagual o desafio.

Manejo do laço sempre faz com muito zelo

e numa peleia, de pronto nunca fica arredio.

Mas tanta destreza e tanta real valentia

a saudade dobra se nele se aquerencia!

E fica à deriva em sua lida campezina,

solito em seu cismar, rolando campo a fora.

E, no reponte o mugido do gado lhe sacode,

chamando-lhe à realidade de sua sina.

Em qualquer lugar do pago é onde mora,

levando consigo a saudade de uma china!

A saudade é uma senhora muito irrequieta.

Quando sua origem é de um profundo amor,

ela se diverte, também de bota e espora,

pealando até os mais bravos e desperta

no recôndito do ser muita alegria ou dor.

Canta sua vitória e depois... vai embora!

Marcos Costa Filho
Enviado por Marcos Costa Filho em 26/09/2013
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