NO PEALO DA SAUDADE
Quando desponta numa nesga do passado,
esta tal de saudade, vezes surge galopando
e faz tremer, balançar forte o pensamento,
até do gaúcho durão, no lidar com sentimento,
surpreendendo o cuera outrora encambixado
e faz ele triste, mesmo dentro dum fandango!
Braço forte, lépido no laço, altivo no galope.
Que ironia, ver um tal bravo simplesmente,
num pealo, bem apertado e de todo inerte,
da tal saudade, campeleando a indócil trote,
fazendo que o amor passado, fortemente,
a manotaços, retorne à lembrança e desperte!
Faceiro sobre a sela ou montado em pelo,
ganha sempre do potro bagual o desafio.
Manejo do laço sempre faz com muito zelo
e numa peleia, de pronto nunca fica arredio.
Mas tanta destreza e tanta real valentia
a saudade dobra se nele se aquerencia!
E fica à deriva em sua lida campezina,
solito em seu cismar, rolando campo a fora.
E, no reponte o mugido do gado lhe sacode,
chamando-lhe à realidade de sua sina.
Em qualquer lugar do pago é onde mora,
levando consigo a saudade de uma china!
A saudade é uma senhora muito irrequieta.
Quando sua origem é de um profundo amor,
ela se diverte, também de bota e espora,
pealando até os mais bravos e desperta
no recôndito do ser muita alegria ou dor.
Canta sua vitória e depois... vai embora!