"corpo véio esgalepado"
É um frio de rengueá cusco
nesse Rio Grande campeiro
vô pra frente do braseiro
tentando me aquentá
chuleando a água chiá
prá um mate bem cevado
"corpo véio esgalepado"
querendo encarangá.
Fiz o tal escalda pé
sentadito num pelego
tá findando o meu sossego
com essa arage danada
co'a boca toda rachada
e os garrão esbudegado
"corpo véio esgalepado"
se entregando pra geada.
Meu galo não canta mais
pois tá com pneumonia
minha égua perdeu a cria
Galinha não qué ponhá
a vaca leite não dá
pescaria é passado
"corpo véio esgalepado"
vendo tudo se findá.
Pegando a faltá corage
um índio deita o cabelo
co'a sorte por sinuelo
e o pingo pela rédia
mais pra mantê minha média
nesse inverno abagualado
"corpo véio esgalepado"
foi-se o pingo, que trajédia...
Vô apelá pro batuque
oração e benzedura
porque a côsa tá escura
de vivê cá nessa terra
o bom cabrito não berra
diz assim um veio ditado
"corpo véio esgalepado"
já quase perdendo a guerra.
Só me resta o consolo
que co'essa friosidade
não tem faltado vontade
de em riba da cama eu tá
em sem querê me gabá
nos lençol eu so laureado
"corpo véio esgalepado"
deita e dorme prá roncá.