Inverno gaúcho
Vens chegando, Senhor Inverno!
Vem trazendo vento frio
e aquelas chuvas frias nos beirais.
Às vezes, demonstra-se fraterno
nos meus recuerdos. Vibro e sorrio,
como sorriam meus ancestrais.
Já sei que chegas, não me amedrontas!
Desta vez fiz provisões:
fechei o curral, cobri o rancho,
vou apenas ver folhas tontas
caindo dos cinamomos e ficar
esperando a volta do carancho.
Aqui me encontras novamente,
Inverno Velho! Estou a tua espera
desde o ano passado,
só que mais gaúcho, mais valente,
não vou junto, vais sozinho,
já levaste o que tinha de mais sagrado.
Não trás mais pânico, nem insônias;
não estou deserto, tenho os cerros,
as lagoas, a querência e o meu chão.
Estou esperando sem cerimônias,
como esperei por longas noites
a volta de alguém, na solidão.
Foi difícil, Senhor Inverno!
Levaste quem eu mais amava,
fiquei só na querência, na tapera,
olhando o gado, com sentimento eterno.
E chegou a primavera, o verão,
o outono e eu na espera.
Brame as tuas fúrias de alucinado!
Balança as árvores, enche os lagos,
cai o casebre e a porteira,
derruba os aramados, mata o gado.
Não tenho mais medo, Senhor Inverno,
sei te enfrentar em qualquer tronqueira.
Reconcilhemo-nos, Velho Inverno!
Não és tão rude, nem tão frio.
Estou triste, porque o tempo passou,
e vai passar muitos invernos,
eu espero alguem que se foi,
e nunca...nunca! Nunca mais voltou!