VOU VIVER NO CHINAREDO

Resolvi, assim, de repente

Voltar para o rancho mais cedo.

Fiz um tanto de alambrado,

Ombreei na estiva o bastante

Pois o que cansa um gigante

Me fez ficar mui cansado.

Era cedo para a folga,

O sol, ainda, era alto.

Tomei um banho de sanga,

Apetrechei o tordilho,

No rumo peguei o trilho

E me atirei pras pitangas.

Não estava com muita pressa

Mas eu queria chegar.

Saudade tinha da prenda,

Chinoca de muito talento

E, aqui no meu pensamento,

A mais linda da fazenda.

Devagar eu fui chegando

Cansado mas bem disposto

Pois que estava enamorado

Da piguancha mui faceira

Sem saber que a caborteira

Há muito havia bandeado.

A peonada já sabia

E me olha de soslaio.

Eu que nem desconfiava,

Já com as guampas bem crescidas

Vivia feliz da vida

Pois o amor me cegava.

Ao chegar naquela tarde

Alguém me fez um cochicho:

Abre teu olho, vivente!

Chega bem devagarinho,

Vá pisando de mansinho

Mas não bata pela frente.

Abri a porta dos fundos,

Devagar, sem alarido.

Nunca imaginei; capaz

Que a prenda que eu amava

Agora se enrodilhava

Nos braços do capataz.

Nunca fui de estrepolia,

Eu sou calmo por demais.

Mas, naquela triste tarde

Agarrei meu marca touro

E saí fazendo estouro

Pra não passar por covarde.

Sou peão, tu és capataz,

Eu respeito a hierarquia,

Eu disse para o carancho

Mas acabei com a fuzarca.

Meti-lhe a minha marca

E botei pra fora do rancho.

E a chinoca chorona

Se fingia de inocente.

Peguei meu facão três lista

Cortei-lhe a trança e pus fora

E disse: Te manda embora,

Te arranca da minha vista.

Botei fora os tarecos,

Prendi fogo nos pelegos

E fui embora da fazenda.

Me amasiei com o putedo

E vou viver no chinaredo

Até encontrar outra prenda!

Dilson Gimba
Enviado por Dilson Gimba em 29/05/2013
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