PRA TI MEU PIÁ!
Quando chegaste ao mundo
Vieste pra ser haragano
E acompanhando teu mano.
Tua mãe carregou no ventre
Gêmeas preciosas sementes
Cada qual com os seus planos.
Tu nasceste de bombacha,
Alpargata e tirador
E, sem ninguém tentar impor
A tua autenticidade,
Demonstraste a humildade
Expressando teu amor
Por essas coisas da terra.
Em teu franco telurismo,
Do garboso ao xucrismo
Expressaste o teu talento
E com nobre sentimento
Moldaste o teu lirismo.
Tua vida foi poesia
Da mais preciosa rima,
Foste uma obra-prima
Mas, num precoce pealo,
Te boaleaste do cavalo
Sem dar a volta por cima.
No mundo não tem parelha
A dor que sente um pai
Quando um filho se vai
Para os pagos do além.
É a saudade que vem,
É a lágrima que cai.
Prepara bem os arreios,
Encilha teu baio ruano
Com aperos de minuano
Pois aí tudo é mais leve.
Pra mim qualquer pêlo serve
Não sendo matungo ou tirano.
Afina bem a garganta,
Te proponho uma prova:
- Quero ver se ainda trovas,
Se ainda tocas tua gaita
E mostrar se ainda és taita
Pra não levar uma sova.
Meu piá,escuta teu pai,
Vou te fazer um pedido:
- Encilha um mate comprido
Pra quando chegar minha hora
E eu tiver que ir embora,
Metearmos descontraídos.