Tapejara dos Tempos

O tempo não tem paragem

nem a vida retrocede,

saúde, Deus me concede,

pois Dele nunca me afasto,

abre um estro de chirú,

como quem abre um baú

de versos, cheirando a pasto!

Sou Tapejara, vaqueano,

graças ao tempo que tenho,

o tempo de donde venho,

das lidas de peão de estância,

me sacudia com âncias,

pesados ensinamentos,

abrandando sofrimentos

de ser adulto na infância.

Fui guri criado guacho

pela peonada da estância,

que o tempo já vez distância,

por tantos quartos de lua.

Da minha estirpe charrua,

guardo talento por dote,

desde quando era frangote

recém apontando a pua.

Guardo no baú dos tempos,

surrões de versos campeiros,

desgastados por janeiros

desta tropilha dos anos,

meus poemas campechanos

nascidos no campo aberto,

alardearão por decerto

os rudes temas pampeanos.

E eu, que andei e vivi,,

transpasei mil horizontes,

buscando nascer das fontes,

para beber água pura,

colher a fruta madura

neste final de existência.

carrego reminiscência

nos aperos da cultura.

Trago amarrado nos tentos

os costumes do galpão,

alma de fogo de chão,

que os tempos não trazem mais.

São valores imortais,

que conservo com afago,

como o amor pelo pago,

vindo de meus ancestrais!

Brotei do sistema antiga,

da velha estirpe caudilha,

quando a pátria era a familia

e a indecência, coisa rara,

onde a vergonha na cara

era um dom enraizado

e é ainda sagrado

pra mim que sou Tapejara!

E assim espalho meu verso

num linguajar teatino,

muito embora citadino

na na minha maturidade,

vou carpeteando amizade

no meu gauderiar plangente,

para saudar o vivente,

que for de boa vontade!

Março de 2013

Darci Éverton Dárgen

Daraci Éverton Dárgen
Enviado por Daraci Éverton Dárgen em 26/03/2013
Código do texto: T4207869
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