Trilhas

Eu queria caminhar por uma trilha sinuosa,

sem perigos,dentro da cidade,

pros teus olhos reconhecerem o perto de casa, o atalho,

o morro, a lagoa, a pedra, a marina, o bairro onde moras.

Eu queria caminhar por uma trilha sem vigia,

pra eu me perder de propósito.

Pros teus passos acompanharem os meus cegamente,

enquanto abro caminho com o meu facão afiado.

Eu queria caminhar por uma trilha que eu não conheço,

guiado pela intuição, pela intenção provocante,

e orientar você pela minha bússola sem norte, sem sul,

como um capitão do mato.

Eu queria caminhar por uma trilha com muitos cheiros.

E que os nossos cheiros se misturem criando uma nova fragrância.

Que o nosso suor seja um protetor solar,

um creme hidratante, um energético.

Eu queria caminhar por uma trilha sem deixar digitais.

Onde os nossos passos não deixem rastro e identificação,

para que ninguém nos siga, ninguém nos ache.

Onde os cantos dos pássaros e o assobio do vento cortando o mato,

nos convidem pra dançar uma canção que só nós ouvimos.

Eu queria caminhar por uma trilha sonora ou não.

Ouvir nossa respiração ofegante , deitados sob as sombras das árvores,

juntos, lado a lado, unidos, uno, sermos verde, clorofila, fotossíntese.

Eu queria caminhar por uma trilha em busca de orquídeas.

Queria pegar as orquídeas que estão no topo das árvores mais altas, mais distantes.

Queria pegar essas orquídeas e entregar pra você cuidá-las.

Queria plantá-las perto de você, no jardim da sua casa, num jardim botânico.

Queria que elas estivessem na mesa do seu café da manhã.

Queria que elas enfeitassem seus cabelos, viajassem com você.

Queria que você fosse uma trilha.