Prateada
Venho de longe somente com a força dos braços
Pra lidar com corda e potro tenho esta folha inteira de aço.
Este par de setes dente que carrego nos meus garrões
Pra fazer bom cavalo pra em outros e morar nos galpões
E também fazer pingo pra os bons tiros de laço.
Seu bolicheiro te pergunto onde posso me justar.
Algum lugar deve ter alguma potrada pra domar?
Mas fome nesta distâncias que ando no corredor
Já vem me pegando as uns dias me causando ate dor.
Tenho esta xerenga de bom corte pra cambiar...
Tenho fome! Mas não tenho nenhuma plata.
Venho lá do rincão das lajes sob as patas
Desta tostada cabana, pois ganhei as estradas
Depois que vi o fel nos olhos de minha ramada.
Não entendi, ganhei o mundo só com esta faca.
Dizem pela boca do povo que onde ficou os olhos
Que me levaram o sono e machucou meus sonhos
Também vertem cristais dos olhos mirando o corredor.
Que mal fiz seu bolicheiro, por ser domador?
Somente sei que sai com meus olhos fundos e molhos.
Saltei pelo mundo garrando potros na força do braço.
Mas já faz mais de dias que procuro serviço?
E não acho, então vim te pedir, onde que tem?
Talvez o senhor saiba onde tenha também?
Mas a fome seu bolicheiro, tenho só esta folha de aço...
Pra trocar, sou só um ginete! Que anda pelo mundo
Rolando macega, tocando potros como um vira-mundo
Sem coplas pelos beirões das estradas dormindo com a lua
Me acalambrando sonhos de fantasmas de alma nua.
E assim vim rolando por ai, virando a coxilha, somente vindo.
Seu bolicheiro, troca comigo esta faca de bom aço
O cabo e prata entalhada em flores pra o sentido do braço
Quando o tempo e feio pelos rumos desta vida.
Mas a fome grita em minha barriga pois ainda procuro lida
Pelo pó dos corredores já quase sem nenhum viço.
Sim, tu vem teatino garreando esta tostada...
Nos teus planos de lida, vida sem nada.
Troco tua xerenga, por hora e sei onde tem serviço
Potrada pra tu ajeitar, pela tuas puas de aço
E quando puder voltar paga e te devolvo a pratiada
Obrigado seu bolicheiro, faz dias que ando por ai assim.
Me vou atrás, e quando tiver o valor e lhe pago sim.
Este prato de feijão com ovo, que me mata a fome
Que a muitos dias me consome e nem dorme
Dentro de min, que já parecia não ter mais fim.
Um dia voltei, quatro potros atado um no outro.
As minhas puas de aço cantando pras os astros.
Plata sobrando nos bolso da bombacha nova
Pilcha buena não a aquela retovada de sova
Das lidas de corda e potros.
Entrei com mesmo entono sob as mesma garras
Pelo portal do bolicho apeando sob a mesma terra
Que entrei em outro dia com fome sem rumo de vida.
O bolicheiro não me conheceu, por não estar com pilcha de lida
Mas vi minha prateada guardada numa cristaleira.
Apresentei-me, com respeito por aquele amigo.
Que quando a vida estava difícil me deu abrigo
E um destino de vida pra quem andou por ai perdido.
Quando dei buenas e já conheceu minha voz sorrindo
Me dizendo que bem, tudo bueno contigo?
Sei que veio busca a prateada que um dia trocou
Por comida, e sei que ela tua fome matou.
Ela nunca saiu do bolicho ficou ali amostra pra os outros
De um que cruzou com fome sob as cruz dos potros
Carregando a vida que os corredor que o levou.
Mil graçias seu bolicheiro, hoje tenho a plata pra pagar.
Aquele prato de comida que um tive que trocar
Minha prateada por culpa da fome e dos destinos.
Veja lá fora, tenho quatro potros que não perdem o tino
Pagamento já de domas, pra nos cambiar.
Ajeitei o ruano pensado na minha prateada.
Mas tenho plata pra lhe pagar esta divida...
Ala pucha faz mais de ano, que cruzei por aqui
E minha prateada ficas-te sempre ali.
Esperando minha volta pela mesma estrada.
Obrigado meu amigo deus lhe pague com minha gratidão
Se hoje tenho rancho eu um galpão com ramadão
Bonito pra enfrenar potro foi por tua ajuda quando vim.
Rolando estradas com a vida já estava quase no fim.
Mil gracias agraço a deus pelo senhor com toda a devoção.