Nos encontramos
Nos encontramos
Estava desapercebido, desatento e o tempo me mostrou você.
Não foi difícil perceber a mulher carregando a menina desatenta, que andou sem olhar pros vários lados da vida.
Temo por opção o encantamento que me distrai agora.
Temo o que se faz agora. Tenho o que acontece.
Penso no amanhã que é o futuro desse momento, que é o futuro perfeito desse hoje, que é o perfeito mais futuro do que quero, que é o que não sei o que vai acontecer.
Gosto de pensar assim: exato como o fato, incerto como tudo é.
Gosto da busca dentro da busca, de querer o que estar por vir só por sentir,
sem sequer saber de onde vem.
Gosto do que vem sem que eu perceba.
O novo nos leva sem permissão, nos pega pelas mãos e nos arrasta pela rua nuas, de casas antigas, de senhoras na janela vendo quem passa abraçado e descalço, quem passa com luz própria, de forma maldita, abençoados pela boemia dos poetas ébrios distintos e retidos no templo mágico do que somos.
Desgastamos nossos corpos envolvidos e permissivos em pleno direito do prazer. Desgastamos nossos olhos embevecidos no que está adiante e queremos viver o presente, e sempre do jeito e da forma que queremos, desenhando os caminhos com precisão cirúrgica.
Descobrimos que nada é errado. Que tudo é a coincidência que não existe.
Descobrimos que a coincidência é errada e existe.
Descobrimos que nos descobrimos num breve tempo que durou uma eternidade.
Descobrimos que nos descobrimos.
Bebemos a chuva ouvindo as músicas que nos traduzem, que nos traduzirão.
Falamos boca a boca com nossas línguas e trocamos nossos gostos.
Nos olhamos de olhos fechados para nos sentirmos melhor.
Tateamos nossos corpos, nos compreendendo no espaço que ocupamos.
Falamos juntos pra escutar o eco da confissão confusa das nossas vozes.
Nos penetramos tentando ficar um só.
Nos encontramos...