Nos encontramos

Nos encontramos

Estava desapercebido, desatento e o tempo me mostrou você.

Não foi difícil perceber a mulher carregando a menina desatenta, que andou sem olhar pros vários lados da vida.

Temo por opção o encantamento que me distrai agora.

Temo o que se faz agora. Tenho o que acontece.

Penso no amanhã que é o futuro desse momento, que é o futuro perfeito desse hoje, que é o perfeito mais futuro do que quero, que é o que não sei o que vai acontecer.

Gosto de pensar assim: exato como o fato, incerto como tudo é.

Gosto da busca dentro da busca, de querer o que estar por vir só por sentir,

sem sequer saber de onde vem.

Gosto do que vem sem que eu perceba.

O novo nos leva sem permissão, nos pega pelas mãos e nos arrasta pela rua nuas, de casas antigas, de senhoras na janela vendo quem passa abraçado e descalço, quem passa com luz própria, de forma maldita, abençoados pela boemia dos poetas ébrios distintos e retidos no templo mágico do que somos.

Desgastamos nossos corpos envolvidos e permissivos em pleno direito do prazer. Desgastamos nossos olhos embevecidos no que está adiante e queremos viver o presente, e sempre do jeito e da forma que queremos, desenhando os caminhos com precisão cirúrgica.

Descobrimos que nada é errado. Que tudo é a coincidência que não existe.

Descobrimos que a coincidência é errada e existe.

Descobrimos que nos descobrimos num breve tempo que durou uma eternidade.

Descobrimos que nos descobrimos.

Bebemos a chuva ouvindo as músicas que nos traduzem, que nos traduzirão.

Falamos boca a boca com nossas línguas e trocamos nossos gostos.

Nos olhamos de olhos fechados para nos sentirmos melhor.

Tateamos nossos corpos, nos compreendendo no espaço que ocupamos.

Falamos juntos pra escutar o eco da confissão confusa das nossas vozes.

Nos penetramos tentando ficar um só.

Nos encontramos...

Paulo Mauricio
Enviado por Paulo Mauricio em 25/12/2012
Código do texto: T4053054
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