Já faz tanto tempo
Já faz tanto tempo.
Tudo mudou.
Somos o que nos conhecemos, somos estranhos dentro do nosso agora.
O que passou ficou na história limpa, entendível sem um ponto final.
Ponto meu, uma vírgula, sem nexo, inexato.
Um abismo nos aproxima diante do absurdo que nos liga.
Elo que desconheço mas não o ignoro. Frágil. Unilateral?
Permito que o ontem nos aproxime, quando hoje estamos distantes.
Entrego o amanhã à nós e a Deus
Como estás agora?
Mais velha eu sei. Eu também.
Te encontro em sintonia duvidosa.
Te encontro triste pedindo socorro.
Te encontro em encontros desencontrados.
Onde estás, que me visitas e me invade sem se afetar?
Onde estás?
Crio, recrio, mato.
Não tenho papel em branco. Então não escrevo
Creio no oposto do que dizes, do que choras.
Choro sem entender teu pranto como uma simples companhia.
Defendo meus olhos dos teus,
Defendo porque não quero que vejas a dor que me marcou.
Dor que foi, e é só minha. Me defendo da dor.
Prometi a mim mesmo. Morri, renasci, estou vivo.
Te estendo minha mão trêmula e medrosa e não te alcanço.
Por que vieste?
Por que me visita?
Por que choras?
Oro por nós sem piedade.
Oro por nós com complacência.
Olho por nós.
Ficas comigo por um dia inteiro, sem sentido.
Te conheço e nada mudou.
Desconheço-te por inteira.
Não sei nada de ti. Apenas te conheço pelo avesso.
Desmancho o sonho quando acordo e ainda te vejo.
Assombras meu dia, há sombras no dia, há sobras.
Entreguei o que queria
Se confessas e fica.
Por que choras?
Preciso ir, continuar.
Por que sempre apareces nas minhas idas?
Temos muito o que nos contar.
Somos outros, somos os mesmos, não paramos no tempo.
O tempo não parou.
Rodou em volta de nós, das nossas cabeças.
Paulo Mauricio