Eu não conheço o teu rosto
Eu não conheço teu rosto
Eu não conheço o teu rosto, teu semblante, tua silhueta
Te desenho sem compasso, em riscos
Tento traçar teus traços com riqueza de detalhes
E sem querer que nada falhe, sou fiel ao que imagino
Eu não conheço o teu rosto, o teu gosto, o teu sorriso
São elementos que eu preciso,pra te dizer que vi alguém
parecido que me lembrou você
Sua voz me soa docemente forte, meio rouca, um sussurro
O som das palavras que escreves não me alcançam
Eu não conheço o teu rosto, o teu corpo, teu tamanho
Quais medidas são as suas, que vestes te vestem, que cores preferes
O que combina com a cor dos teus olhos?,dos teus cabelos?
Que café da manhã combina com as tuas manhãs?
Eu não conheço o teu rosto, tua hóstia, tua comunhão
Tudo é inexato, indiscreto, é o certo no incerto, é a contra-mão
É a passagem do vento na tua lua escorpiã
Tudo é possível, como a fé ao invisível e a ira pagã
Eu não conheço teu rosto e não me arrependo por isso
Te espio secretamente através das nossas janelas distantes
Vacilante, tento ser certeiro como um arqueiro medieval
Como um caçador e o tiro fatal
Eu não conheço o teu rosto mas sinto o teu perfume
Percebo que assim vou te definindo, te revelando
Como um pintor de rua termino o teu retrato para emoldurá-lo
O retrato é seu, a imagem é minha
Eu já conheço o teu rosto e te procuro pelas ruas
Morena, loira , ruiva, mulata, pura imaginação
São horas de caminhada verdadeiramente em vão
De repente tua imagem vai sumindo, se apagando, como num velho retrato
Eu não conheço o teu rosto, apenas imagino
Já não me atrevo a desenhá-lo sem permissão
Me inspiro na desordem, na flutuação profana
Como uma cigana lendo mãos
Eu não conheço o teu rosto, nem por onde passas
As vezes acho graça sem saber o por quê
Talvez já nos vimos, nos olhamos, nos falamos ...
E eu ainda não conheço o teu rosto
Paulo Mauricio