Poeminha da espera e Poeminha da chegada

Poeminha de espera

Quando você chegar...

Eu não sei quem eu serei

Talvez eu seja quem eu era

Talvez eu seja quem nem sei.

Quando você chegar...

Talvez eu esteja mais bela

Talvez haja um bolo na mesa

Um girassol na janela...

Uma toalha bordada

Um prato na pia

Alguma melodia na sala vazia

uma valsa

uma bossa

Alguma canção que foi nossa

Talvez tu suba a ladeira assoviando algum hino

E um anjo caído toque algum sino

Talvez eu reconheça seu passado

E um cão manco venha lamber seus pés cansados

talvez ainda haja fome no mundo

Talvez o bolo seja repartido

Talvez eu já tenha partido...

Quem sabe o que existirá

quando você chegar...

NELMA FRANÇA

Poeminha da chegada

Quando eu chegar...

Serei o mesmo

Talvez mais arrumado

Talvez mais sereno, mais enrugado

Quando eu chegar...

Estarei mais velho

E você também

O tempo passou mais alguns instantes

E mais uma vez nos encontrou

O prato do dia

Pode ser sementes de poesia

Com melodias íntimas

E vinhos debochados

Uma curiosidade aflita vai assaltar

As revelações que ainda não fizemos

Anjos safados nos levarão a um tribunal

Estaremos nús, diante de um deus pecador

Que nos condenará a liberdade perpétua

Vamos andar nús, assobiando um hino sem

sem pátria, sem plástica.

Um cão vagabundo, sem sombra, nos guiará

através do tempo desarrumado que reconhecemos.

Não haverá fome, temos frutos em abundância

Não faltará cor, temos cores em abundância,

Quem sabe estaremos unindo nossas partes?

Quem sabe, somos partes que partem sem chegar...

Paulo Mauricio

Paulo Mauricio e Nelma Franca
Enviado por Paulo Mauricio em 04/11/2012
Reeditado em 21/04/2014
Código do texto: T3968106
Classificação de conteúdo: seguro
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