Poeminha da espera e Poeminha da chegada
Poeminha de espera
Quando você chegar...
Eu não sei quem eu serei
Talvez eu seja quem eu era
Talvez eu seja quem nem sei.
Quando você chegar...
Talvez eu esteja mais bela
Talvez haja um bolo na mesa
Um girassol na janela...
Uma toalha bordada
Um prato na pia
Alguma melodia na sala vazia
uma valsa
uma bossa
Alguma canção que foi nossa
Talvez tu suba a ladeira assoviando algum hino
E um anjo caído toque algum sino
Talvez eu reconheça seu passado
E um cão manco venha lamber seus pés cansados
talvez ainda haja fome no mundo
Talvez o bolo seja repartido
Talvez eu já tenha partido...
Quem sabe o que existirá
quando você chegar...
NELMA FRANÇA
Poeminha da chegada
Quando eu chegar...
Serei o mesmo
Talvez mais arrumado
Talvez mais sereno, mais enrugado
Quando eu chegar...
Estarei mais velho
E você também
O tempo passou mais alguns instantes
E mais uma vez nos encontrou
O prato do dia
Pode ser sementes de poesia
Com melodias íntimas
E vinhos debochados
Uma curiosidade aflita vai assaltar
As revelações que ainda não fizemos
Anjos safados nos levarão a um tribunal
Estaremos nús, diante de um deus pecador
Que nos condenará a liberdade perpétua
Vamos andar nús, assobiando um hino sem
sem pátria, sem plástica.
Um cão vagabundo, sem sombra, nos guiará
através do tempo desarrumado que reconhecemos.
Não haverá fome, temos frutos em abundância
Não faltará cor, temos cores em abundância,
Quem sabe estaremos unindo nossas partes?
Quem sabe, somos partes que partem sem chegar...
Paulo Mauricio