OFICIO DE CARROCEIRO
“Carroceando” os desenganos
Nesta vida de “povoeiro”
Vou “cabrestiando” o destino
Na lida de carroceiro
Seis horas pulo do catre
E sevo meu mate amargo
Dou água e milho pra o pingo
E na china faço um afago
Pego um cepo, esquento a água
Prendo fogo num “palheiro”
E vou “chimarrear” os sonhos
Da vida de carroceiro
Sete e meia encilho o pingo
E atrelo no carroção
Largo pra o povo espichado
Que nem corda de violão
Só sei a hora que saio
Pois se na sorte me “plancho”
È só na boca da noite
Pra dar as caras no rancho
Vou “carroceando” esperanças
Durante a semana inteira
Transportando areia, brita
Cimento, ferro e madeira
Mudança, esterco pra horta
Tanto faz se a lida é bruta
Pois eu o pingo e a carroça
Não nos curvamos pra luta
E quando a coisa ta boa
Da frete igual uva em cacho
Carrego porco, galinha
“cusco” bravo, e algum “borracho”
Meu corpo velho matuto
Eu falquejei no sacrifício
Por isto eu tomei por tento
Ser carroceiro de oficio
Puxando fretes no povo
Eu alargo o meu universo
E vou trançando esta lida
Num forte “sovéu” de versos
Sou feliz, e me considero
Um carroceiro de emoções
Pois vejo os sonhos de tantos
Passarem por minhas mãos
E quando findar meu tempo
Que a morte descer o véu
Se o patrão velho deixar
Eu vou fazer fretes no céu