OFICIO DE CARROCEIRO

“Carroceando” os desenganos

Nesta vida de “povoeiro”

Vou “cabrestiando” o destino

Na lida de carroceiro

Seis horas pulo do catre

E sevo meu mate amargo

Dou água e milho pra o pingo

E na china faço um afago

Pego um cepo, esquento a água

Prendo fogo num “palheiro”

E vou “chimarrear” os sonhos

Da vida de carroceiro

Sete e meia encilho o pingo

E atrelo no carroção

Largo pra o povo espichado

Que nem corda de violão

Só sei a hora que saio

Pois se na sorte me “plancho”

È só na boca da noite

Pra dar as caras no rancho

Vou “carroceando” esperanças

Durante a semana inteira

Transportando areia, brita

Cimento, ferro e madeira

Mudança, esterco pra horta

Tanto faz se a lida é bruta

Pois eu o pingo e a carroça

Não nos curvamos pra luta

E quando a coisa ta boa

Da frete igual uva em cacho

Carrego porco, galinha

“cusco” bravo, e algum “borracho”

Meu corpo velho matuto

Eu falquejei no sacrifício

Por isto eu tomei por tento

Ser carroceiro de oficio

Puxando fretes no povo

Eu alargo o meu universo

E vou trançando esta lida

Num forte “sovéu” de versos

Sou feliz, e me considero

Um carroceiro de emoções

Pois vejo os sonhos de tantos

Passarem por minhas mãos

E quando findar meu tempo

Que a morte descer o véu

Se o patrão velho deixar

Eu vou fazer fretes no céu

Silvestre Araujo
Enviado por Silvestre Araujo em 10/09/2012
Código do texto: T3874872
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