CHIMARRÃO MINHA BEBIDA
Porongo grosso e curtido
Erva buena e de primeira
Pra este ritual campeiro
Que faço a semana inteira
Abancado sobre um cepo
Junto ao fogo de chão
A alma foge do corpo
Na faísca de um tição
E no chiar da cambona
Eu cavalgo na vastidão
Do doce amargo que sorvo
Da cuia de chimarrão
Pai dos costumes gaúchos
Tempero da raça amada
Chimarrão é minha bebida
E a vida eterna mateada
Sempre que posso, eu reúno
A pionada e meus amigos
Pra dois, três dedos de prosa
E chimarrear junto comigo
Enquanto a gente proseia,
A cuia de mão em mão
Nos enche a alma de paz
E nos aquece o coração
E tanto faz numa estância
Ou num rancho da cidade
Em cada gole de mate
Eu encontro a felicidade
Pois só entende este mundo
E conhece as regras do jogo
Quem faz o ritual sagrado
de matear ao pé do fogo
Entre um chimarrão e outro
A vida é prosa e poesia
Na seiva da tradição
Que eu sorvo no dia a dia
Nós todos somos iguais
Sem distinguir cor nem luxo
Numa roda de chimarrão
O sacerdócio do gaucho