ERA EU E O MEU CACHORRO
Era eu e o meu cachorro
Duas vidas e um destino
Cortando os rincões da pampa
Num andejar teatino
Eu um piazito reiuno
Que a vida tornou vaqueano
Ao pegar o mundo por conta
Novilho de sobreano
Meu “cusco” botado fora
Um “guaipéca” cola fina
Eu encontrei num corredor
Roendo os ossos da sina
E tornou-se parte de mim
Pelo resto da sua vida
Tendo meu rastro por guia
E minha sombra por guarida
Pelas carreiras e carpetas
Quando estourava a peleia
Meu “cusco” afiava os dentes
Mastigando carne alheia
E até nas lidas da róça
Nas “changas” dadas pra gente
Eu ia furando a terra
E ele tapando as sementes
Aonde eu fosse o “cusco” ia
Por mim cruzava um deserto
E nem com reza das braba
Alguém me chegava perto
Em rodeios e nos repontes
O meu “cusco” era de valor
Juntava e apartava a tropa
E fazia culatra e fiador
Mas então numa tropeada
Rodei do pingo que andava
E uma quatiara num bote
A minha alma encomendava
Mas meu “cusco” deu um bote
Evitando o golpe fatal
E rasgou a cobra a dentadas
Mas levou picada mortal
E hoje eu só vejo em sonhos
O meu parceiro de andanças
Por isto eu tropeio as magoas
No lombo destas lembranças