CHUVARADA
Faz tempo que vem chovendo
A querência ta alagada
É chuva pra mais de metro
Parece coisa mandada
A sanga botou pra fora
E a menos que a coisa mude
Até a boca da noite
Rebenta a taipa do açude
Tou recolhido ao galpão
Só vendo o tempo passar
Já consumi duas loncas
E sem tentos pra trançar
Desquinei os desparelhos
E tratei de aproveitar
Preciso lidar no campo
E a chuva não quer parar
“Ontonte” abaixo de água
Resgatei o gado ilhado
De um a um a cabresto
Com um caíque emprestado
Não pra adular o patrão
Mas pra manter meu emprego
Toquei gado cerro acima
E a chuva não deu arrêgo
Cortei lenha e tirei leite
Debaixo da chuva forte
E pra “bóia” da pionada
Carneei uma rês de corte
Só não deu pra “curá” o gado
Nem galopear a potrada
Pois segue deitando água
E virou num mar a invernada
São Pedro feche as comportas
Que o pago já ta inundado
“Tamo” igual sapo em lagoa
E o tempo sempre fechado
A chuva não da uma trégua
Perdi até o meu sossego
Porque o pulguedo dos cuscos
Se arranchou nos meus pelegos