SECA BRABA
"Mas bá" que seca danada
O chão do açude rachou
A sanga é trilho pra o gado
E até o arroio secou
O mormaço é sufocante
E o sol “véio” é de “lascá”
Que até lagarto "campeia"
Uma sombra onde “ficá”
A gadaria com sede
É só a pelanca e os ossos
E nem no rancho tem água
Pra china “faze” o almoço
Pois a muito não cai chuva
Por estes ermos pampeanos
Que secou a vida e os sonhos
Do nosso povo haragano
A estiagem fez do campo
Um escaldante deserto
Que gente e bicho com fome
Vagueiam sem rumo certo
Comendo poeira nos bretes
Já que os sonhos se acabaram
A plantação foi pra o brejo
E os arvoredos secaram
Sinto a agonia do pago
Nos gritos mudos da terra
Os cavalos não relincham
Nem tampouco o touro berra
O sol pior que um brazedo
Já queimou mato e capim
E a seca braba parece
Que nunca mais vai ter fim
Pai velho escute esta reza
Que eu faço com devoção
Olhai por nós, vossos filhos
E de a vossa permissão
Para que o taura São Pedro
Este santão véio macho
Abra as torneiras do céu
E mande água aqui pra baixo